Para PGR, reabilitação eleitoral de Lula foi estopim de ações golpistas

Se o 8 de janeiro foi o ápice da tentativa golpista do grupo denunciado nesta terça-feira (18) pela Procuradoria Geral da República (PGR), o início da ofensiva contra o sistema eleitoral e o Supremo Tribunal Federal, segundo Paulo Gonet, foi a reabilitação eleitoral do hoje presidente Lula, em março de 2021.
A leitura do Ministério Público é a de que, a partir daquele momento, “a escalada” de ataques “ganhou impulso”.
A motivação seria puramente eleitoral.
Bolsonaro liderava ‘núcleo crucial’ do golpe, segundo a PGR
Na linha do tempo do governo Bolsonaro, o então presidente faz um acordo com o Congresso a partir da pandemia, entregando aos paramentares grandes somas em emendas, e volta seus ataques ao STF e questionar a legitimidade do sistema eleitoral. Ainda em 2021, Bolsonaro usa suas lives, muitas vezes dentro das dependências do governo, para atacar as urnas eletrônicas.
“A partir de 2021, o Presidente da República adotou crescente tom de ruptura com a normalidade institucional nos seus repetidos pronunciamentos públicos em que se mostrava descontente com decisões de tribunais superiores e com o sistema eleitoral eletrônico em vigor”, escreve Gonet na denúncia.
“Essa escalada ganhou impulso mais notável quando Luiz Inácio Lula da Silva, visto como o mais forte contendor na disputa eleitoral de 2022, tornou-se elegível, em virtude da anulação de condenações criminais. Em 22 de março de 2021, poucos dias depois de Lula da Silva haver superado a causa de inelegibilidade, o grupo de apoio do então Presidente da República, que formará o núcleo da organização criminosa, cogitou de o Presidente abertamente passar a afrontar e a desobedecer a decisões do Supremo Tribunal Federal, chegando a criar plano de contingenciamento e fuga de Bolsonaro, se a ousadia não viesse a ser tolerada pelos militares”, completou.
Gonet disse ainda que a postura golpista de Bolsonaro se acentuou com a liderança de Lula nas primeiras pesquisas eleitorais.
“O cenário das pesquisas eleitorais se mostrava inclinado em favor do principal adversário antevisto, por quem os que cercavam o Presidente da República não escondiam marcada aversão, a ele se referindo com palavras de ultraje e menosprezo. O grupo terá percebido a necessidade de pronta arregimentação de ações coordenadas contra a possibilidade temida que se avultava. Começaram, então, práticas de execução do plano articulado para a manutenção do poder do Presidente da República não obstante o resultado que as urnas oferecessem no ano seguinte”, diz a denúncia.
O uso crescente do discurso de ódio também serviu para o mesmo fim, gerar indignação de seus apoiadores. “A partir de então, os pronunciamentos públicos passaram a progredir em agressividade, com ataques diretos aos poderes constituídos, a inculcar sentimento de indignação e revolta nos seus apoiadores e com o propósito de tornar aceitável e até esperável o recurso à força contra um resultado eleitoral em que o seu adversário político mais consistente triunfasse”.
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