ESTADO DE SANTA CATARINA PODERÁ TER MAIS QUATRO DEPUTADOS FEDERAIS EM 2026

Será que o eleitor concordaria com esse aumento?

A Câmara Federal cogita aproveitar uma decisão do STF sobre a quantidade de deputados por estado para aumentar o número de parlamentares já para a próxima legislatura. A proposta é criar até 18 novas vagas, com o estado de Santa Catarina ficando com mais quatro parlamentares.

O assunto está na agenda da cúpula da Casa. Favorito a ser o próximo presidente, o deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) abordou o tema em sua campanha. Caso a medida saia do papel (o que é bem possível), o Brasil terá até 531 deputados federais. Atualmente, são 513.

Os Estados Unidos têm um total de 435 deputados para uma população de 335 milhões pessoas, numa proporção de 1 para cada cerca de 770 mil habitantes. O Brasil tem 212 milhões de moradores. A proporção atual é de 1 para cada 413 mil pessoas. Com a mudança, passaria a ser 1 a cada 399 mil.

A mudança de vagas por estado é consequência de uma ação na Justiça. A Constituição determina que o número de deputados seja proporcional à sua população, com um mínimo de 8 e máximo de 70 parlamentares por estado. A distribuição das 513 vagas da Câmara foi feita em 1993, e a atualização periódica prevista em lei nunca ocorreu.

Em 2017, o Pará entrou com ação no STF pedindo atualização e, no ano passado, obteve decisão favorável. O estado tem direito a quatro novos deputados e, assim, passaria de 17 para 21 parlamentares. Com a redistribuição, sete estados ganhariam deputados: Amazonas (2), Ceará (1), Goiás (1), Minas Gerais (1), Mato Grosso (1), Pará (4) e Santa Catarina (4). Outros sete estados perderiam deputados: Alagoas (1), Bahia (2), Paraíba (2), Pernambuco (1), Piauí (2), Rio de Janeiro (4) e Rio Grande do Sul (2).

MANOBRA DOS DEPUTADOS

A possível criação das novas vagas é consequência de uma manobra encabeçado por parlamentares do Rio de Janeiro e de parte dos estados do Nordeste. Ela consiste na abertura de vagas nos estados contemplados e no não fechamento das vagas nos estados que perderiam parlamentares. Assim, a Casa ganharia 14 novos deputados. Ocorre que os estados que têm direito a ter mais parlamentares não concordaram com a matemática, pois ficariam em igualdade com os estados em que a população caiu.

Para a proporção populacional ser respeitada, seriam necessários 18 novos parlamentares, o que daria um o total de 531 deputados no total.

A atualização precisa ser concluída até 30 de junho deste ano. O critério deve ser o último Censo do IBGE. Caso os deputados não cumpram a decisão do STF, o TSE – Tribunal Superior Eleitoral – ficará com a responsabilidade da tarefa. As mudanças, uma vez efetivadas, já valeriam para a eleição de 2026, mas há articulações para contornar a decisão judicial.

Favorito para ganhar a eleição da Câmara, Motta é sensível ao tema e foi abordado pela bancada catarinense durante reunião para pedir votos para o cargo. Procurado, ele não se manifestou.

DEPUTADOS CRITICAM AUMENTO

A proposta de criar vagas recebeu críticas. A deputada Júlia Zanatta (PL-SC) declarou que o povo não aceitaria aumentar o número de deputados. Rafael Pezenti (MDB-SC) tem um projeto de atualização do número de vagas por estado e também é contra a proposta. Deputados de estados que perderiam parlamentares também são contra. O paraibano Cabo Gilberto (PL) disse que, se for para mudar o número de parlamentares, que seja para cortar vagas. Kim Kataguiri (União Brasil-SP) afirma que a sociedade ficará contra a medida, que não deve prosperar.

Deputados que cogitam a criação de vagas alegam que não haverá custos. Eles dizem que o orçamento do Legislativo tem sobras todos os anos. O remanejamento de verbas seria outra possibilidade de não elevar despesas, diz a deputada Laura Carneiro (PSD), do Rio de Janeiro, estado que poderia perder quatro vagas. Para ela, só haverá chance de criação de vagas somente se ficar claro para a sociedade que os gastos da Câmara não vão subir.

Isso é improvável, indica exemplo recente. Em 2023, houve aumento no número de comissões da Câmara. Até então, eram 25 grupos para tratar de assuntos temáticos, como transportes e agricultura, entre outros. A abertura de cinco novas comissões ocorreu com remanejamento de servidores. Mas a promessa de não existirem novos gastos se desfez com a abertura de concurso para contratar mais funcionários. Para Kataguiri, o mesmo deve acontecer se forem criadas novas vagas de deputado.

CRÍTICAS AO CENSO

Outra tentativa dos estados que poderiam perder deputados é adiar a decisão. Parlamentares do Rio de Janeiro e do Nordeste afirmam que não há uma base de dados sólida para fazer a atualização. Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) cita o fato de o Censo ter sido feito durante a pandemia, com uma série de dificuldades limitando o trabalho dos recenseadores. Laura Carneiro alega que os profissionais do IBGE não subiram nas comunidades do Rio de Janeiro. Ela pede audiências públicas para ouvir especialistas e montar um plano de trabalho sobre eventual mudança no número de deputados. Outra sugestão da parlamentar é pedir para o STF adiar o prazo da atualização. Pezenti, de Santa Cactarina, diz que a discussão é saudável, mas ressalta que há um prazo a ser cumprido. “Somos 513 deputados, já é mais que suficiente. O que precisa é distribuir melhor esses parlamentares, para que o voto de todo brasileiro tenha peso igual”, diz ele.

Por Folhapress – Brasília

 

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