Locadora de filmes em DVD e VHS é mantida há 38 anos e resiste aos streamings no interior de SP


O aposentado João Batista de Tódaro, o Caçulinha, atende nostálgicos e colecionadores em Araraquara. Comerciante resiste ao tempo e mantém locadora de VHS e DVD há 38 anos em Araraquara
Quem passa atento pela rua Padre Duarte, no Centro de Araraquara (SP), se depara com algo raro: uma locadora de DVD, blu-ray e até do velho VHS. NO local, as mídias físicas desconhecidas para muita gente resistem à atual onda de streamings (conteúdos online) e remetem aos anos 1980, em uma viagem no tempo levada por clássicos do romance, western, aventura, terror, comédia.
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O comerciante João Batista de Tódaro, o Caçulinha, de 83 anos, é o responsável pelo local há 38 anos.
Apesar de ainda ser chamado de locadora, não há mais aluguel de filmes. O foco é vender o acervo de 4 mil títulos para os nostálgicos que buscam seus filmes preferidos – e que não estão disponíveis gratuitamente online. O local é uma mina para colecionadores que vão garimpar títulos.
“Eu só continuo aqui porque eu gosto do que faço, se fossse por dinheiro eu já tinha mudado de ramo. A minha paixão é o cinema e tenho muitos clientes e amigos que vem me ver, é bom porque sempre tenho pessoas para conversar . Vem desde gente mais antiga aos mais jovens atrás de filmes”, disse.
João Batista, o Caçulinha, resiste ao tempo com loja de DVDs e CDs em Araraquara há quase 40 anos.
Amanda Rocha/g1
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Cliente raiz
O jornalista Davi Marques Pastrelo, de 43 anos, é cliente desde criança e frequenta o espaço sempre que pode. Ele mora fora do país e, quando passa por Araraquara, aparece na loja para procurar DVDs – pra ele, a mídia perfeita para assistir bons filmes e séries – de aventura, thriller e investigação.
“Eu costumo comprar DVD porque prefiro a mídia física para assistir o que quero e na hora que eu quero. Eu acredito que assim tenho a verdadeira escolha, porque por streaming ou TV por assinatura acabamos assistindo o que eles transmitem e impõem , de certa forma. Eu devo ter uns 500 DVDs em minha coleção, de Indiana Jones a Breaking Bad”, disse.
O jornalista Davi Pastrelo é cliente desde criança e até hoje compra filmes e séries em DVDs na loja de Araraquara.
Amanda Rocha/g1
Davi faz parte da geração que, nos anos 1980 e 1990, alugava filmes aos fins de semana, e se lembra da correria que era para conseguir um lançamento.
“Eu vinha correndo na sexta à tarde porque tinha promoção, alugava três filmes e passava o fim de semana. Os lançamentos eram difíceis de pegar, tinha que reservar antes”, contou.
O aposentado Tadeu Castelan, 74 anos, é cliente há mais de 15 anos e toda semana passa para ver alguma coisa “nova”. Ele é consumidor de filmes épicos, ganhadores de Oscar e de atores como Marcello Mastroianni, Gregory Peck , John Wayne e Rock Hudson. Tadeu observa que muitas de suas películas preferidas estão fora do catálogo da internet.
“Tem certas coisas que só encontro aqui, não saem no streaming e nenhum lugar. O Caçulinha tem um acervo muito rico, de CDs de músicas italianas, dos anos 1960. Todo mês eu passo aqui para ver uma coisinha e levar”, disse.
Tadeu é fã de filmes clássicos e não fica uma semana sem comprar algum filminho no Caçulinha.
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Os DVDs avulsos custam entre R$ 5 e R$ 20, e os poucos VHS saem por R$ 2. Há também blu-ray para um público segmentado, já que a imagem do disquinho azul em Full HD só roda em aparelho específico. Eles custam R$ 10. O valor de séries completas , como Downtown Abbey, com 23 discos , é de R$ 80.
“Hoje vendo filmes bem baratinhos, quase de graça. Mas sempre soube que o blu-ray não ia vingar, embora eu tenha várias opções no formato. Eu fui o primeiro aqui em Araraquara a ter loja de filmes e estou sendo o último a ter uma, diferente de São Paulo onde ainda existe locadora mesmo”, afirmou Caçulinha.
No espaço, há um leitor de DVD , onde os clientes podem testar as mídias e um aparelho que faz o polimento de mídias sujas ou riscadas fica de prontidão para os mais exigentes.
O comerciante Caçulinha ajuda o cliente Davi no garimpo de séries especiais.
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Cinéfilo comerciante
O apelido “Caçulinha” foi herdado pelo comerciante João Tódaro de seu pai, um saudoso vendedor de bilhetes de loteria da cidade. No imóvel próprio onde fica a loja, antes funcionava uma lotérica de mesmo nome.
Precoce, foi na infância que Caçulinha se encantou pelo mundo da sétima arte, fuçando em revistas de cinema. Aos 12 anos, ele começou a passar filmes para distrair as crianças, enquanto seus pais estavam na missa da Igreja Matriz.
Em pouco tempo, já projetava filmes em super 8 (filmes de 18 minutos), frequentava cineclubes. Foi sócio do cinema em Santa Lúcia e arrendou o de Américo Brasiliense.
“Eu comecei com nove fitas de VHS, e aí fui indo, não tinha filme original selado, eu conseguia umas cópias que eram muito boas, e fui incrementando e crescendo no ramo”, conta.
Caçulinha é cinéfilo desde a infância: ele passava filmes em super 8 para crianças assistirem e já foi sócio de cinemas na região de Araraquara.
Amanda Rocha/g1
Tempos áureos
Nos tempos áureos da locadora, Caçulinha chegou a ter 10 funcionários que se revezavam para atender o frenético público, ávido pelos lançamentos e novidades. O comerciante recorda que chegava a alugar 2,8 mil filmes aos fins de semana.
“Era uma festa de tanto filme que alugava e na segunda (data da devolução) era uma loucura, um monte de funcionário pra atender e não dava conta. Tinha que rebobinar as fitas e muitos não rebobinavam, não sabiam como fazer, aí a gente cobrava ns 50 centavos”, disse.
Caçulinha começou com uma lotérica no local que hoje está a locadora em Araraquara. Imóvel é de sua família.
Amanda Rocha/g1
Caçulinha se lembra de uma situação engraçada com uma cliente que alugava a coleção da Turma da Mônica para a filha. A cliente esquecia de devolver as fitas durante todo o mês e pagava caro com cheque.
“Quando ela chegava para devolver sempre fazia o cheque reclamando porque a filha pedia de novo a Turma da Mônica para assistir. Era sempre assim, devolvia e já alugava de novo as fitas”, contou rindo.
Hoje, o comerciante está aposentado e trabalha sozinho e de segunda a sábado, das 11h30 às 15h, o espaço fica aberto para as amigos e apaixonados pela sétima arte.
“Tenho bons clientes que são colecionadores e não trocam os filmes pela TV paga. Quem me mantém são essas pessoas”, disse.
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