Uma a cada 3 crianças no mundo tem miopia, aponta estudo

Uma a cada 3 crianças no mundo tinha miopia em 2023 e essa proporção deve alcançar 40% dos meninos e meninas em 2050, ultrapassando 740 milhões de casos.

A constatação é de uma ampla revisão sistemática e meta-análise que analisou 276 pesquisas envolvendo cerca de 5,4 milhões de crianças em 50 países de todos os continentes. Os resultados foram publicados em setembro no British Journal of Ophthalmology.

A miopia é um distúrbio visual que geralmente começa na 1ª infância —período que contempla do nascimento até os 6 anos de idade— e tende a piorar. É caracterizada pela dificuldade de enxergar objetos distantes: eles ficam embaçados e, quanto mais grave for a miopia, menor é a distância na qual o paciente consegue focar.

O problema se dá quando o olho forma a imagem antes da retina. Isso significa que ele precisa de uma maior aproximação dos objetos para elaborar adequadamente a imagem que será enviada ao cérebro.

“É impossível aproximarmos todos os objetos para a adequada formação da imagem. Por esse motivo, o tratamento inclui a correção refrativa, que pode ser alcançada pelo uso de óculos, lentes de contato ou de forma definitiva pela cirurgia refrativa”, explica o oftalmologista Adriano Biondi, do Hospital Israelita Albert Einstein.

A nova revisão de estudos indica um aumento significativo na prevalência de miopia entre crianças e adolescentes nos últimos 30 anos —saltou de 24% em 1990 para quase 36% em 2023, especialmente depois do período da pandemia. Dentre as possíveis explicações estão o uso excessivo de visão para perto, impulsionada pelo uso de telas, e estar em ambiente confinado, com menos contato com a luz natural.

Na avaliação de Biondi, os altos números de miopia entre jovens surpreendem, mas são notáveis e cada vez mais preocupantes.

“Se observarmos os dados históricos, nos últimos 60 anos temos presenciado um aumento significativo da prevalência de miopia, com trajetória contínua de alta. Há razões para duvidar de que se trata apenas de uma alteração explicada pela genética, pois as mudanças têm se dado muito rápido e podem ser melhor explicadas pelas mudanças de hábitos e comportamentos humanos”, analisa.

O estudo observou que crianças asiáticas têm mais miopia –cerca de 35% das que vivem no Leste Asiático tinham o problema em 2023, mais que o dobro da taxa de outras regiões.

Para se ter uma ideia, a prevalência na Ásia é aproximadamente 7 vezes maior do que a observada na África. A América Latina e o Caribe demonstraram a menor prevalência entre os 6 continentes. Para os autores, a escolaridade mais cedo pode explicar essas diferenças.

O oftalmologista do Einstein concorda: “Tanto a escolarização quanto o subdiagnóstico em outros países podem contribuir para a explicação. Mas, certamente, o tempo dedicado à leitura e ao estudo, por si só, já é capaz de explicar essa correlação, já que ela foi identificada também em outros países desenvolvidos, tais como Austrália, Israel e Estados Unidos”.

Tratamento e prevenção

A partir do diagnóstico, existe tratamento para a miopia. De acordo com Biondi, para crianças na idade em que a miopia ainda está se desenvolvendo, uma das estratégias é o uso de lentes especiais que podem retardar ou atenuar o problema. Se ele persistir após o final do desenvolvimento do olho, ao redor dos 20 anos de idade, a cirurgia refrativa por laser pode ser utilizada.

Para adultos acima dessa idade ou com miopia muito significativa, uma das indicações de tratamento é o implante de lentes intraoculares. “Atualmente, usar óculos é praticamente opcional para a maioria dos pacientes”, pontua o oftalmologista.

Para prevenir o problema, a principal recomendação é aumentar as atividades das crianças ao ar livre, com maior exposição à luz natural, e restringir o tempo de uso de aparelhos eletrônicos.

“Ter uma vida saudável, com menos uso de celular, menos telas e menos uso do computador, é muito útil para mitigar os riscos de miopia, além de serem hábitos muito bem-vindos para a saúde metabólica e mental”, lembra o médico.

Em relação ao tempo de telas, a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica recomenda:

  • abaixo de 2 anos: nenhuma exposição às telas;
  • de 2 a 5 anos: limitar a no máximo uma hora diária;
  • de 6 a 10 anos: de uma a 2 horas ao dia;
  • de 11 a 18 anos: até 2-3 horas diárias.

Em relação às medidas comportamentais estão:

  • preferir a maior tela, na maior distância possível (televisão é preferível ao celular);
  • controlar a distância de uso (manter os aparelhos a uma distância de um braço adulto);
  • evitar telas durante as refeições;
  • evitar telas pelo menos 2 horas antes de dormir;
  • estabelecer intervalos periódicos seguindo a regra do “20-20-20”, quando a cada 20 minutos de atividade perto, realizar intervalos de pelo menos 20 segundos para fixar objetos a 20 pés (aproximadamente 6 metros) de distância;
  • manter uma postura adequada: tablets e computadores devem ficar na altura dos olhos da criança;
  • estimular atividades ao ar livre sob exposição solar indireta por pelo menos 2 horas por dia;
  • reduzir o brilho e aumentar o contraste da tela do aparelho eletrônico;
  • evitar o uso de telas em ambientes mal iluminados.

Com informações da Agência Einstein.

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