Transição energética é tema central nas eleições australianas

A Austrália encara sua próxima eleição geral em 3 de maio de 2025. Diferente de outros países, a discussão política entre os candidatos australianos se baseia na transição energética e nos impactos desse setor na economia dos cidadãos.

Na última eleição em 2022, o principal debate entre as duas maiores forças políticas do país, o Partido Trabalhista e a coalizão Liberal-Nacional, foi a necessidade de energias renováveis na estrutura energética australiana.

A Austrália é um país isolado geograficamente de outras grandes regiões, o que limita as fontes energéticas somente aos recursos internos. A base da energia australiana está nas fontes de carvão mineral, que representa mais da metade de toda a matriz energética, e gás natural. 

Os recursos mais abundantes, no entanto, são combustíveis fósseis muito criticados por governos europeus e ativistas climáticos pela alta emissão de gases do efeito estufa.

O atual premiê, Anthony Albanese (Partido Trabalhista, esquerda), se elegeu em 2022 com promessas de mudar a base energética do país e investir em energias renováveis, visto que a Austrália possui um alto potencial para energia solar e eólica.

A coalizão Liberal-Nacional, no entanto, apoia a continuidade das fontes baseadas no combustível fóssil, principalmente para as regiões em que a economia é baseada na atividade das usinas térmicas, como Queensland.

DEBATE SOBRE ENERGIA

A principal discussão entre os governistas e a oposição para as eleições é a viabilidade e os problemas da transição energética em uma matriz antiga e já bem estabelecida com os combustíveis fósseis.

Para o eleitor australiano, um dos principais problemas é o aumento de preço nas contas de luz. A Aemc (Comissão Australiana do Mercado de Energia) aumentou o valor base da energia em até 9% para residências a partir de julho, o que acumula cerca de 40% de aumento desde 2022.

A principal crítica da oposição é a capacidade atual para suportar as novas fontes renováveis, o que aumenta os gastos em relação à infraestrutura e o valor da energia para a população.

A transição energética está na pauta dos 2 principais partidos que disputarão a eleição e os australianos deverão optar por um dos planos propostos para reduzir as emissões. O Partido Trabalhista mira alcançar uma meta de 82% de energia renovável com investimentos em solar e eólicas. Já a coalizão Liberal-Nacional traçou um plano de construir 13 GW (gigawatts) de energia nuclear até 2051.

A agência especializada em energia Rystad Energy prevê que atingir a meta de 82% será desafiador, com projeções mais realistas sob o Partido Trabalhista estimando uma parcela renovável de cerca de 65%: um déficit de 17%, mesmo sob os cenários mais otimistas.

O governo Albanese argumenta que a transição energética trará benefícios ambientais e economizará custos a longo prazo. Além dos fontes renováveis, a sigla também quer investir no gás natural para se afastar do carvão.

No caso de uma vitória da coalizão Liberal-Nacional, espera-se que a parcela de energia renovável do país seja menor devido ao foco do partido na energia nuclear, tornando a meta de 82% uma meta distante. A coalizão também vê com bons olhos o aumento da oferta de gás natural para garantir uma energia menos poluente e barata enquanto faz sua transição.

Pesquisas de intenção de voto mostram um cenário estreito entre o Partido Trabalhista e a coalizão de direita. A opinião dos eleitores quanto ao prazo das mudanças energéticas será o fator determinante no resultado eleitoral. 

Caso os eleitores optem por uma mudança lenta e incerta de Albanese e das pautas climáticas, os trabalhistas ganharão o Parlamento e investirão ainda mais em fontes renováveis. Entretanto, se os cidadãos desejarem o imediatismo dos liberais-nacionais, as reservas de carvão continuarão a dominar a energia na Austrália.

COMO FUNCIONA A ELEIÇÃO

A cada 3 anos o primeiro-ministro deve convocar a votação para renovar o Parlamento australiano. Eleitores votam para 2 cargos: os deputados da Câmara dos Representantes e os senadores. Na votação, 151 assentos estão em disputa na casa baixa e 76 na casa alta do Legislativo. 

O partido que vencer a eleição indica o primeiro-ministro e deve formar uma coalizão para aprovar medidas do governo e assim estabelecer um mandato estável politicamente.


Este texto foi produzido pelo estagiário de jornalismo Levi Matheus sob supervisão do repórter Eric Napoli e da editora-assistente Katarina Moraes.

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