Desde a posse de Donald Trump, em janeiro de 2025, líderes mundiais e alguns dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos que se opõem às suas políticas registraram melhorias em suas taxas de aprovação. Pesquisas de opinião indicam que os chefes de Governo de Canadá, México, Reino Unido, França e Ucrânia tiveram avanços em popularidade desde o final de 2024.
Esses avanços podem ser atribuídos à reação da opinião pública contra as políticas protecionistas de Trump, às incertezas no comércio global causadas por suas tarifações e aos impactos de suas decisões em conflitos e segurança internacional.
Essa reação mais antagonista é uma mudança em relação ao 1º governo Trump, quando a maioria dos países buscou negociar com Washington depois das primeiras medidas protecionistas do republicano.
Segundo Vitor dos Santos Bueno, pesquisador de relações internacionais na UnB (Universidade de Brasília), “as populações locais tendem a se unir” quando Trump adota ações unilaterais e protecionistas, como tarifas e intenções intervencionistas (exemplos: transformar o Canadá em um Estado norte-americano; mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América; e anexar a Groenlândia).
“Esse efeito é entendível pelo fato de ser um ataque direto e claro a soberania desses Estados e um desrespeito generalizado com a opinião individual daquela população”, afirmou Bueno em entrevista ao Poder360.
Canadá
No Canadá, a eleição do economista Mark Carney como líder Partido Liberal e, consequentemente, o primeiro-ministro enfraqueceu o favoritismo de Pierre Poilievre, líder do Partido Conservador na corrida eleitoral do país. Carney assumiu em 14 de março o mandato tampão depois da renúncia de Justin Trudeau.
Menos de uma semana depois de assumir o comando do partido de centro-esquerda, Carney já protagonizava uma reviravolta no cenário eleitoral, antes favorável para os conservadores. Uma pesquisa do instituto Angus Reid, publicada na 2ª feira (24.mar), mostra que a recuperação dos liberais continua a crescer, levando o partido a uma vantagem de 8 pontos (46% a 38%) sobre os conservadores.
Isso se deu principalmente pela deterioração das relações entre Canadá e Estados Unidos, que influenciou a mudança da opinião pública canadense. As questões que antes tornaram Trudeau impopular, como imigração e a crise imobiliária, perderam protagonismo diante da necessidade de combate às tarifas impostas pelo governo de Trump às importações canadenses.
Carney se mostrou antagonista na guerra comercial contra Trump, trazendo um discurso nacionalista que favorece sua popularidade frente aos conservadores que são tradicionalmente mais alinhados com a integração econômica com os EUA.
México
No México, a situação não é diferente. A presidente do país, Claudia Sheinbaum (Morena, esquerda), angariava 75% de aprovação quando eleita para o cargo em outubro de 2024. Em nova pesquisa, publicada em fevereiro, Sheinbaum subiu 10 pontos percentuais, com 85% de aprovação.
Em fevereiro, o instituto de pesquisa El Financiero perguntou aos entrevistados: “Como você classificaria a maneira como o governo Sheinbaum está tratando o relacionamento com Donald Trump?”. A resposta: 35% disseram que está ótimo e 45% disseram que está ruim ou muito ruim.
Ainda assim, segundo a pesquisa, em fevereiro, 60% dos mexicanos classificaram a forma como Sheinbaum lida com a deportação de imigrantes ilegais dos Estados Unidos como boa ou muito boa. Da mesma forma, 55% deram a mesma classificação à forma como ela lidou com as tarifas impostas pela Casa Branca.
A presidente também tem se mostrado antagonista a Trump nas discussões sobre planos de imigração, segurança de fronteira e a renomeação do Golfo do México.
Em 4 de março, Sheinbaum também prometeu retaliações aos Estados Unidos por causa das tarifas de 25% sobre as importações. Na ocasião, disse que não há justificativa para a implementação.
Questões na Europa
Alguns líderes europeus também adotam uma posição crítica em relação a Trump, especialmente depois da atitude mais agressiva em relação à Ucrânia na guerra contra a Rússia. Em 10 de fevereiro, Trump assinou o decreto que estabelece a taxação de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio do país.
Em resposta, a UE anunciou, em 12 de março, “contramedidas comerciais” às tarifas impostas pelos EUA. A Comissão Europeia classificou as tarifas como “injustificadas e prejudiciais” ao comércio transatlântico.
Trump, por sua vez, não recuou e, em 13 de março, anunciou que aplicaria tarifas de 200% sobre todos os vinhos, whisky, champanhes, e outras bebidas da UE.
De acordo com o pesquisador Vitor Bueno, “a UE, tradicional aliada dos Estados Unidos, vem sendo ameaçada quase que semanalmente, seja como um alvo tarifário, ou sendo excluída das mesas de negociação de conflitos territoriais próximos”.
Líderes europeus
A posição de confronto com Trump tem beneficiado alguns líderes europeus em termos de popularidade. Uma pesquisa do Ipsos Political Pulse, realizada de 14 a 17 de março, mostrou que a aprovação do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer (Partido Trabalhista, centro-esquerda), subiu 8 pontos desde fevereiro, de 21% alcançando 29%. Já sua desaprovação caiu 9 pontos, ficando em 46%.
Na França, o presidente Emmanuel Macron (Renascimento, centro), que lidera o debate sobre a necessidade de a Europa fortalecer sua própria defesa, alcançou 29% de aprovação em março, de acordo com pesquisa da BVA realizada em 19 e 20 de março. Mesmo com a melhora, Macron ainda enfrenta um alto nível de desaprovação.
A discussão do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky (Servo do Povo, centro) com o presidente norte-americano na Casa Branca, em 28 de fevereiro, foi bem recebida internamente. Uma pesquisa conduzida pelo Instituto Internacional de Sociologia de Kiev, de 14 de fevereiro a 4 de março, mostrou que a confiança no presidente ucraniano subiu de 57% em fevereiro para 67% em março.