Moramos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza

Já tem algum tempo, aconteceu um fato que expõe o caráter da elite entreguista brasileira. Após o incêndio da Catedral de Notre Dame, em Paris, a banqueira brasileira Lily Safra doou R$ 88 milhões para a reconstrução da famosa catedral. Já tem algum tempo também, o Museu Nacional pegou fogo no Rio de Janeiro, mas não recebeu um centavo dela. Políticos antigos como Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Jessé de Souza e até Fernando Henrique Cardoso já há muito estudavam o perfil ideológico dessa gente, e concluíram que tal camada social sempre teve muito mais olhos para a Europa e para os Estados Unidos, que sempre viravam as costas à América Latina e ao povo brasileiro. Esse desprezo é uma herança colonial e escravagista, pois para essa elite, os recursos naturais jamais deveriam ser usados para desenvolver o país e garantir o bem-estar do povo, mas sim para servir a própria acumulação primitiva pela qual se explora ao máximo o trabalhador local, o que garante para essa gente uma cadeira entre os ricos, europeus e estadunidenses. Por isso, privatiza-se o público.

A classe média (infelizmente) vem copiando essa visão de mundo, fato que se reflete nas camadas populares gerando o chamado “pobre de direita”. Bolsonaro foi a expressão nua e crua dessa nova classe média ignorante e antinacional, que presta continência a potências imperialistas e despreza a cultura do próprio país – vide agora quanta gente prestando continência ao “Make América Great Again”, criado por Donald Trump. Não por outro motivo, o ex-presidente sempre declarava guerra a professores e artistas, ao mesmo tempo em que exaltava as forças de repressão. Por isso, tanto dona Lily quanto Bolsonaro – enquanto presidente – ignoraram a reconstrução do Museu Nacional. Esse museu que é um símbolo da afirmação da identidade nacional e do desenvolvimento soberano do país na construção de uma autonomia científica nacional. Então, toda a elite brasileira não presta? Não! Claro que não! O fato que elegeu Lula, por exemplo, foi exatamente ele ter percebido que havia empresários como o ex-vice-presidente José Alencar (seu primeiro vice), e mais recentemente o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, hoje o atual vice-presidente. Por outro lado, o que garantiu a força de Vargas, a seu tempo, foi promover empresários nacionalistas. Vargas era de direita, mas um nacionalista.

Hoje, somente com essa compreensão é que setores populares teriam chances de retornar ao poder no Brasil, pela via democrática. Caso contrário, ficarão marcando passos à espera de uma oportunidade para dar um novo golpe, quem sabe. O Brasil não precisa ser 100% de um lado PI de outro. O Brasil precisa de gente que ame o país, que se respeite uns aos outros, e que faça acontecer em favor do povo brasileiro, seja este povo de esquerda, de direita ou de centro. Mas o que vemos hoje, tendo tanta gente com os olhos muito mais lá fora que aqui dentro, acho mesmo que esse amor pela Pátria-Mãe só voltará a ocorrer daqui a, digamos, uns 50 anos… quando boa parte dos nossos habitantes, inclusive nós mesmos, for renovada pela força implacável da natureza.

L. Fernandes – Jornalista

The post ARTIGO: SEU AMOR PELO BRASIL DEVE SER INCONDICIONAL appeared first on Folha do Estado SC.