Pacotes do “New York Times” impulsionam assinaturas de jornais europeus

*Por Hanaa’ Tameez

O “impulso Trump” não é exclusivo para os veículos de notícias nos Estados Unidos.

No outono passado, 4 veículos de notícias europeus tornaram suas ofertas de assinatura mais atraentes ao oferecer acesso gratuito ao New York Times, com a ideia de que seus leitores poderiam querer uma cobertura mais abrangente das eleições dos EUA.

Assinantes premium de meios de comunicação como El País (Espanha), Politiken (Dinamarca), Irish Times (Irlanda) e Corriere della Sera (Itália) também podem acessar o New York Times, Athletic, Wirecutter, NYT Cooking e NYT Games.

Com as eleições terminadas, novos acordos continuam sendo lançados em outras partes da Europa. O NRC, um dos jornais de referência na Holanda, anunciou seu pacote do New York Times em 12 de março. Sua assinatura digital básica com o New York Times custa cerca de 130 euros (cerca de R$ 800, na cotação atual) por 1 ano.

O De Standaard da Bélgica, que compartilha uma empresa-mãe com o NRC, deu acesso completo ao New York Times para seus assinantes atuais sem custo adicional em 12 de janeiro. Uma assinatura anual do De Standaard custa 90 euros (cerca de R$ 555, na cotação atual).

As parcerias têm a intenção de ser mutuamente benéficas. As publicações europeias adicionam um benefício para seus assinantes, enquanto o New York Times ganha acesso a novos leitores internacionais, avançando em sua visão de 2022 de “se tornar a assinatura essencial para toda pessoa curiosa e falante de inglês que busca entender e se envolver com o mundo.”

“Como uma das principais organizações de notícias globais, temos trabalhado com veículos de notícias internacionais para oferecer aos seus assinantes acesso digital completo ao ‘New York Times’”, disse Andy Wright, vice-presidente sênior do Times e chefe de assinaturas globais corporativaas.

“Embora esta seja uma iniciativa relativamente nova que evoluiu ao longo do último ano, ficamos encorajados ao saber que os veículos estão vendo sinais de sucesso. O ‘Times’ vê isso como uma oportunidade de oferecer ao público internacional de notícias nosso jornalismo independente e estamos ansiosos para continuar expandindo esse programa com outros editores selecionados”, declarou.

O Times tem esses acordos com mais de 20 veículos, disse um porta-voz do Times. O jornal tem como objetivo atingir 15 milhões de assinantes até 2027. No final de 2024, tinha 11,4 milhões de assinantes pagos, sendo 10,82 milhões somente digitais. Cerca de metade desses assinantes digitais apenas se inscreveram em pacotes ou produtos múltiplos, e os assinantes internacionais representaram mais de 20% das assinaturas só digitais.

As publicações europeias com as quais conversei esperam atrair leitores para suas opções de assinatura premium anual com os acordos com o Times, que não estão disponíveis para assinantes mensais.

O El País, por exemplo, lançou uma faixa de assinatura premium em fevereiro de 2024. Normalmente com preço de 180 euros (R$ 1.111, na cotação atual) por ano, a assinatura premium inclui todos os benefícios de uma assinatura básica (144 euros por ano), além de recursos extras, como acesso a newsletters pagas, publicidade reduzida e acesso ilimitado para 2 usuários.

Em outubro, o El País ofereceu acesso completo ao New York Times para qualquer assinante básico na Espanha e na América Latina que atualizasse para o plano premium. O pacote também está disponível para novos assinantes pagos com um preço com desconto no 1º ano.

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Reprodução/Nieman Lab

“Neste ano eleitoral nos Estados Unidos, no qual Kamala Harris e Donald Trump disputam a Casa Branca, em um momento crítico e contexto internacional marcado por conflitos no Oriente Médio e no Leste Europeu, o ‘El País’ oferece aos seus leitores a informação política e internacional mais abrangente e completa graças a esta forte aliança,” disse o El País na época.

Em 5 meses, mais de 5.000 assinantes do El País ativaram contas do New York Times por meio da oferta, de acordo com Luis Baena Reig, diretor de marketing da Prisa Media, empresa-mãe da publicação. A parceria é a 1ª do El País com um meio de comunicação em inglês, embora tenha oferecido assinaturas combinadas com outros meios de comunicação latino-americanos no passado, como o La Tercera no Chile.

“Originalmente, pensávamos que o inglês seria uma barreira significativa, mas estamos vendo um crescimento linear na taxa de resgates de códigos”, Baena me disse por e-mail. “As eleições presidenciais americanas tiveram um efeito catalisador na demanda e resgates desses códigos, mas o interesse permanece latente e a demanda continua crescendo linearmente. Em termos de engajamento, os números também são bastante altos. Por exemplo, o número de visualizações de página por assinantes que resgataram esses códigos no ‘NYT’ é semelhante ao número de visualizações de página que recebem no ‘El País’.”

O El País terminou 2024 com 391 mil assinantes digitais apenas, um aumento em relação aos 374 mil no 3º trimestre. No total, tem 404 mil assinantes pagos de versão impressa e digital. Baena disse que o interesse dos usuários pelos pacotes do New York Times significa que outros pacotes podem fazer parte da estratégia de assinatura do El País no futuro.

“Não há razão para pensar que isso não funcione na maioria dos mercados onde o pagamento por assinatura já está bem avançado,” disse Baena.

Assim como o El País, o Irish Times queria promover sua assinatura premium anual. Ele havia oferecido um pacote do New York Times em 2018. A chefe de assinaturas do Irish Times, Aoife O’Connor, disse que o Times entrou em contato novamente em abril para apresentar um acordo semelhante, com foco nas eleições presidenciais e na possibilidade de uma 2ª administração Trump.

O Irish Times fez uma oferta por tempo limitado em outubro e novembro, que daria aos assinantes premium anuais acesso ao Irish Times e ao New York Times por 190 euros (R$ cerca de 1.170, na cotação atual). A campanha on-line e off-line foi chamada de “take a bigger bite” (“pegue uma mordida maior”, em tradução livre) e apresentava uma maçã mordida, aludindo ao apelido de Nova York, a Big Apple.

“Há um grande interesse entre nossos leitores pela perspectiva dos EUA sobre eventos globais, especialmente através da cobertura de artes do ‘Times’, quebra-cabeças e NYT Cooking,” disse O’Connor. “Essas ofertas aumentam significativamente o valor geral para nossos assinantes sem diluir a própria cobertura ou o portfólio do ‘Irish Times’”.

O’Connor se recusou a compartilhar números específicos sobre quantos assinantes aproveitaram a oferta. Mas ela disse que 70% dos assinantes que se inscreveram estão usando ativamente suas assinaturas do Times e que o Irish Times superou sua meta de assinaturas para este acordo em 32%.

Na Dinamarca, o jornal diário Politiken oferece acesso completo ao New York Times por 2 anos para seus assinantes digitais anuais. O editor-chefe Christian Jensen disse que a equipe de vendas do Times visitou o Politiken em setembro e as negociações para uma parceria de pacotes começaram nesse momento.

Usuários que pagam mensalmente pelo acesso digital e o e-jornal não são elegíveis para o acordo do Times. Durante a corrida eleitoral dos EUA, o Politiken ofereceu aos usuários acesso a ambas as publicações por 99 coroas dinamarquesas (cerca de R$ 82, na cotação atual) pelos primeiros 6 meses, e 339 coroas dinamarquesas (R$ 280) a partir de então. Jensen se recusou a fornecer números de assinaturas, mas disse que 30% dos assinantes do Politiken ativaram suas contas do Times nas primeiras 2 semanas da venda.

A oferta atual na página de assinaturas do Politiken para um pacote do New York Times é de 999 coroas dinamarquesas (US$ 827) por 12 meses.

“Nosso público principal consiste em dinamarqueses bem-educados, urbanos, digitalmente experientes, com uma forte visão internacional e interesse particular em assuntos americanos,” disse Jensen. “A resposta notável ao nosso pacote do ‘New York Times’ no primeiro mês só reforçou essa compreensão sobre nossos leitores.”


Hanaa’ Tameez é uma jornalista da equipe do Nieman Lab. Cobre inovação na indústria de notícias. Anteriormente, foi editora de boletins informativos para a startup de mídia local WhereBy.Us e repórter de diversidade do Fort Worth Star-Telegram no Texas, onde cobriu raça, identidade e equidade social.


Texto traduzido por Janaína Cunha. Leia o original em inglês.


O Poder360 tem uma parceria com duas divisões da Fundação Nieman, de Harvard: o Nieman Journalism Lab e o Nieman Reports. O acordo consiste em traduzir para português os textos do Nieman Journalism Lab e do Nieman Reports e publicar esse material no Poder360. Para ter acesso a todas as traduções já publicadas, clique aqui.

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