Negros e indígenas em cargos de liderança sobem 19 p.p. em 25 anos

Nos últimos 25 anos, a presença de pessoas não-brancas em cargos de liderança no governo federal aumentou 19 pontos percentuais. Em 1999, no 1º ano do 2º mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), eram 3.321 (20%) em um quadro geral de 17.190. Em 2024, pretos, pardos e indígenas representam 39% do total. São 16.432 entre os 40.842 funcionários do Executivo federal.

Os dados da pesquisa “Lideranças Negras no Estado Brasileiro” (PDF – 3 MB) foram divulgados nesta 6ª feira (28.mar.2025). O levantamento foi feito pela Afro-Cebrap (Núcleo de Pesquisa e Formação em Raça, Gênero e Justiça Racial), com apoio da Fundação Lemann e da ONG, Imaginable Futures.

O estudo considera cargos de chefia todos os profissionais que ocupam posições de liderança, de chefes de setores da administração federal a ministros de Estado. As curvas do infográfico abaixo indicam que, de 1999 a 2024, houve um aumento gradual da porcentagem de pessoas não-brancas com cargos de chefia no governo.

Os avanços mais significativos foram durante o 1º governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e neste 3º mandato de Lula, quando o número de pretos, pardos e indígenas em cargos de liderança no Executivo avançou 4 pontos percentuais. A menor taxa de crescimento foi durante o Lula 2, quando o avanço foi de só 1%.

Ainda que exista avanço para o grupo, o crescimento é maior para homens do que para mulheres não-brancas. Durante as duas décadas, os percentuais de homens nessa posição subiram 11,6 pontos, enquanto os de mulheres só 7,5 pontos.

Em contrapartida, a quantidade de homens brancos e amarelos em posições de poder no Executivo diminuiu 2,1 pontos percentuais durante os 25 anos analisados. Apesar disso, eles ainda são a maioria em todos os ministérios.

De 1999 a 2024, também subiu o número de funcionários públicos em cargos de liderança no governo que autodeclaram a sua cor. Os funcionários sem declaração foram de 16,1% para zero.

Alessandra Benedito, vice-presidente de Equidade Racial da Fundação Lemann, reitera que o aumento da presença de pessoas negras em posições de liderança no Poder Executivo nos últimos anos representa um avanço importante, porém ainda insuficiente. “Os dados revelam que há um trabalho significativo a ser realizado para garantir a equidade racial e de gênero no Brasil”, disse.

No estudo, os pesquisadores afirmam que observaram que a maioria era altamente qualificada, com ensino superior e cursos de pós-graduação, mas ao contrário de colegas brancos, não vinham de linhagem de “elite”. “Percebemos que nunca havia um histórico familiar. Raramente encontrávamos alguém com trajetória de elite. Apenas um. Todos me diziam algo assim: ‘eu sou embaixador e meu pai era pedreiro”, contou Flavia Rios, coordenadora de projetos do Afro-Cebrap.

O ALTO ESCALÃO

Além da contabilização do quadro geral por governo, a Afro-Cebrap também levantou dados por ministérios. Para os ministérios que não existiam ou tinham suas pautas absorvidas por outros dos edifícios da Esplanada, foi feita uma compatibilização. 

A estratificação dos dados mostram que instituições consideradas de “elite”, como o Itamaraty, têm pouca diversidade em seus quadros de funcionários. No Ministério das Relações Exteriores, 51% dos cargos de chefia são ocupados por homens brancos e amarelos. Na Fazenda, esse grupo representa 50%. Mulheres negras, pardas ou indígenas ocupam só 7% e 9% dessas posições, respectivamente.

Em março de 2025, este Poder360 mostrou que, em 2024, não havia mulheres indígenas entre os servidores do Itamaraty.

O estudo mostra ainda que órgãos voltados a políticas sociais têm maior representatividade. Pessoas pretas, pardas e indígenas ocupam 61% dos cargos de liderança no Ministério dos Povos Indígenas. Já no Esporte, são 43% e nos ministérios de Cultura e Educação, 41%.

Pensar nisso traz ‘insights’ poderosos sobre medidas que [as lideranças não-brancas] tomaram e o que é estrutural. Aí, podemos atacar de forma estruturante o que tem a ver com formação, ou situação, ou capital social e político”, acrescentou a coordenadora.

METODOLOGIA

Os dados apresentados na pesquisa “Lideranças Negras no Estado Brasileiro” (PDF – 3 MB) são uma junção de pesquisa quantitativa e qualitativa realizada pela Afro-Cebrap.

A parte quantitativa da pesquisa foi construída com informações disponíveis nos portais PEP e Siape (governo federal) e levaram em consideração os quadros de 1999 a 2024 dos funcionários públicos ativos. O estudo tem como base metodológica uma divisão étnica: brancos e não-brancos. No grupo “brancos”, são consideradas pessoas brancas e amarelas. Já no “não-brancos”, incluem-se pretos, pardos e indígenas.

Outra marca metodológica importante para a compreensão do estudo é a subdivisão criada para diferenciar “cargos de liderança” e cargos de “alto escalão”. A Afro-Cebrap entende por cargos de liderança no Executivo federal os CCE (Cargos Comissionados do Executivo) e as FCE (Funções Comissionadas Executivas). Essas nomenclaturas, instituídas por lei 14.204 de 2021 são organizadas por hierarquia numérica, de 1 a 15.

Os cargos CCE e FCEs iguais ou acima de 15 são de alto escalão e têm posições iguais ou mais altas que os de direção ou subsecretaria, de natureza especial e ministros; os cargos de média autoridade, com CCE e FCE de 5 a 14, são titulares de serviço ou unidade até coordenação geral; os cargos de baixa autoridade, com CCE e FCE até 4, são cargos em comissão e funções de confiança mais baixos na hierarquia.


Esta reportagem foi produzida pelo trainee deste Poder360 Pedro Linguitte sob a supervisão do editor Jonathan Karter. 

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