Fraude com boletos, promessa para juiz e abraço na patroa: o que se sabe sobre caso de funcionária suspeita de desviar R$ 530 mil


Iomayra Oliveira dos Santos exercia a função de assistente financeira, mas levava vida luxuosa incompatível com o salário que recebia, segundo a polícia. Fraude teria sido praticada em mais de uma empresa. Iomayra Oliveira dos Santos (de laranja) durante audiência de custódia
Reprodução
As fraudes atribuídas pela polícia à assistente financeira Iomayra Oliveira dos Santos, de 36 anos, vitimaram pelo menos duas empresa e podem chegar a R$ 930 mil. Apenas no último trabalho, a suspeita pode ter provocado um prejuízo estimado em R$ 530 mil supostamente fraudando boletos bancários.
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A advogada Laura Gondim, que faz a defesa de Iomayra em um dos casos, informou que o inquérito ainda não foi finalizado e que “é prematuro concluir pela materialidade delitiva” (veja nota completa abaixo).
No dia do cumprimento do mandado de prisão pela Polícia Civil, 20 de março, imagens da câmera interna da empresa obtidas pela TV Anhanguera mostram que Iomayra chegou ao escritório e cumprimentou a chefe com um abraço. Logo após os agentes chegam ao local.
O alvará de soltura de Iomayra foi expedido nesta quarta-feira (26), depois que a Justiça conseguiu bloquear as contas bancárias dela. A investigada já deixou a Unidade Prisional Feminina, de acordo com a defesa.
Segundo a Polícia Civil, ela ostentava uma vida luxuosa com carros importados e viagens caras, mesmo recebendo salário de R$ 1,5 mil. Veja o que se sabe sobre o caso:
Quais são as acusações?
Quantas empresas foram vítimas?
Como suspeita conseguiu cometer as fraudes?
Como a fraude foi descoberta?
Com o quê a suspeita gastou o dinheiro?
Suspeita prometeu não mexer nas contas bancárias
Alvará de soltura após bloqueio de bens
Depoimentos dos empresários que foram vítimas
Íntegra do posicionamento da defesa
Quais são as acusações?
Iomayra Oliveira dos Santos é investigada em dois inquéritos pelo crime de furto qualificado com abuso de confiança. O primeiro caso foi em um posto de combustíveis, onde o proprietário calcula um prejuízo de pelo menos R$ 700 mil. A investigação é feita pela 2ª Delegacia de Palmas.
O segundo inquérito, pelo mesmo crime, supostamente ocorreu em uma empresa do ramo alimentício, e levou à prisão da suspeita no dia 20 de março. Esse caso foi registrado inicialmente na 1ª Central de Atendimento da Polícia Civil de Palmas e depois enviado para a 3ª Delegacia de Polícia de Palmas.
Quantas empresas foram vítimas?
Até o momento duas empresas foram identificadas como vítimas das fraudes, sendo o posto de combustíveis e a última, que levou à prisão da suspeita, do ramo alimentício. Os desvios descobertos recentemente, na segunda empresa, podem passar de R$ 530 mil.
No posto de combustíveis, a investigada teria dado um prejuízo inicialmente de R$ 400 mil, mas que pode passar de R$ 700 mil, segundo a investigação.
Como suspeita conseguiu cometer as fraudes?
Na empresa do ramo alimentício, segundo a polícia, Iomayra era responsável por fazer os pagamentos de fornecedores, mas desviava o dinheiro para uma outra empresa, em seu próprio nome.
A fraude acontecia quando ela supostamente emitia boletos para a própria empresa e fazia pagamentos adiantados. Depois, na data de vencimento dos boletos verdadeiros, os valores eram pagos novamente, mas dessa vez para os verdadeiros credores do local onde trabalhava.
“Por exemplo, se a empresa vítima estava devendo o boleto X com data de vencimento para dia 20/02/2025, a autora adiantava para o dia 05/02/2025 no sistema da empresa e emitia um boleto no nome da empresa que ela criou. Na data de vencimento do boleto no dia 20/02/2025, a autora realizava novo pagamento, desta vez para a empresa credora”, explicou a Secretaria de Segurança Pública.
Em relação ao posto de combustíveis, o delegado Cassiano Oyama, da 2ª Delegacia de Palmas, explicou como ela teria conseguido fazer os desvios.
“Em dado momento ela determinou que os frentistas quando recebessem o pagamento em dinheiro, que lançassem no sistema que o pagamento foi via Pix e a conferência desse Pix era feito por ela. Esse dinheiro de fato não entrava no caixa da empresa e ela era responsável por essa conferência, e era uma possível subtração de pequeno valor só que diária. No montante total de uma atuação de meses pode ter levado a um prejuízo grande da empresa”, explicou o delegado.
Como a fraude foi descoberta?
Assistente abraçou a chefe quando chegou à empresa, pouco antes da prisão
Reprodução
A patroa da investigada na empresa do ramo alimentício descobriu o desvio de dinheiro quando Iomayra faltou ao trabalho, no dia 17 de março. A empresária vítima do furto precisou desempenhar a função da suspeita e se deparou com um “sistema muito bagunçado”. Ao analisar a situação, encontrou a fraude com os boletos.
“Um levantamento preliminar feito pela empresa, vítima dessa empreitada criminosa, revela um prejuízo em torno de R$ 530 mil, mas temos a expectativa que seja bem maior”, informou o delegado Evaldo Gomes.
No posto de combustíveis, a fraude foi descoberta depois que o dono do posto desconfiou das finanças e recebeu uma denúncia de um dos frentistas.
Com o quê a suspeita gastou o dinheiro?
A Polícia Civil informou que a assistente financeira ostentava uma vida de luxo mesmo sendo uma pessoa que recebia salário de R$ 1,5 mil. Conforme o delegado Evaldo Gomes, Iomayra estava acumulando capitais, possivelmente produto dos desvios.
“Ela vinha ostentando traços externos de riqueza, tendo um padrão de vida bem superior aos ganhos, tendo em vista que ela é assalariada com rendimento possível de R$ 1,5 mil por mês, e mesmo assim andava com carros importados novos, tinha mais de um imóvel, sempre viajava, gastava muito dinheiro com festas, tinha eletrodomésticos caros, eletroeletrônicos e estava acumulando capital”, explicou o delegado.
Suspeita prometeu não mexer em dinheiro
Em audiência de custódia, na sexta-feira (21), Iomayra se comprometeu a não retirar dinheiro das contas pessoais em troca da liberdade provisória, alegando ter dois filhos menores de idade. O pedido não foi aceito pelo juiz, que condicionou a liberdade ao pagamento de uma fiança de R$ 100 mil ou ao bloqueio das contas da investigada pela Justiça.
A defesa se manifestou pela soltura com o uso de tornozeleira, mas o juiz negou e considerou que como o caso envolve patrimônio, poderia haver a possibilidade de Iomayra retirar a quantia que possui de contas bancárias. Nesse momento, a suspeita afirmou:
“Por favor, excelência, meu celular está todo bloqueado. Eu faço esse compromisso [de não mexer no dinheiro]”, comentou a investigada durante a audiência, acompanhada da defesa.
Juiz estabeleceu fiança para liberar suspeita de desviar R$ 530 mil de empresa
Alvará de soltura após bloqueio de bens
Na audiência de custódia, no dia 21 de março, ficou definido que a liberdade provisória seria concedida mediante o pagamento de fiança no valor de R$ 100 mil ou bloqueio de bens e valores da suspeita. Esse bloqueio de R$ 530 mil das contas bancárias dela só foi determinado pela Justiça na quarta-feira (26).
Segundo o pedido do Ministério Público à Justiça, Iomayra possui um negócio no ramo alimentício que estaria sendo usado para receber o dinheiro furtado da empresa onde trabalhava. E por isso seria necessário o bloqueio de bens, que inicialmente foi feito apenas para conta bancária de pessoa física.
A decisão foi assinada pelo juiz substituto Luiz Zilmar dos Santos Pires, da 3ª Vara Criminal de Palmas. Com isso, o alvará de soltura só foi expedido pela Justiça na quarta-feira.
A advogada Laura Gondim informou que Iomayra já saiu da Unidade Penal Feminina e que as alegações feitas são precipitadas e desproporcionais aos fatos e que todos os esclarecimentos necessários serão apresentados. A defesa ainda afirmou que confia nas instituições responsáveis e se coloca à disposição para colaborar com o inquérito (veja nota completa abaixo).
Depoimento dos empresários que foram vítimas
Empresária explica como descobriu que assistente teria desviado R$ 530 mil de empresa
Em entrevista à TV Anhanguera, Luciana Borges, dona da empresa que teve prejuízo de R$ 530 mil, contou como descobriu as fraudes e como denunciou o caso à polícia.
“Eu falei não é possível. Foi terrível! A coisa que eu mais precisava que acontecesse fosse que ela viesse trabalhar na quinta-feira [dia da prisão]. Ela veio trabalhar como se nada tivesse acontecido. Ela tinha acesso de criar um boleto, ela poderia pôr para qualquer um o pagador, então ela forjava o boleto com as informações que eram necessárias. E ela colocava isso junto com a nota fiscal”, disse Luciana.
No posto de combustíveis, Iomayra trabalhou por um ano e o crime foi descoberto em julho de 2024. Aurismar Cavalcante, dono do estabelecimento, afirmou que calculou um prejuízo de R$ 700 mil e explicou como ela teria desviado o dinheiro.
“Sempre negando que não sabia, que eu tinha que colocar auditoria aqui dentro, enfim. Daqui a pouco um frentista me chamou e disse que não aguentava mais fazer o que estava fazendo, que começou passando R$ 800, depois passou para R$ 1 mil, depois para R$ 2 mil. Tinha dia que passava R$ 3 mil para ela e ele percebeu e falou que não concordava. Falou que há um ano, desde o dia que entrou, que estava passando esse dinheiro para ela”, relembrou o empresário.
Íntegra da defesa de Iomayra Oliveira dos Santos
A advogada que representa Iomayra no inquérito sobre o posto de combustíveis foi procurada pela TV Anhanguera e afirmou que não iria se manifestar neste momento.
Na investigação sobre os desvios na empresa do ramo alimentício, a defesa de Iomayra afirmou que: “Diante das acusações que ensejaram a prisão da Iomayra, a defesa esclarece que as alegações feitas são precipitadas e desproporcionais aos fatos, o que se atesta através da liberdade provisória concedida. Reforçamos nosso compromisso com a verdade e com a justiça, confiando que, no momento oportuno, todos os esclarecimentos necessários serão apresentados, e a realidade dos fatos será exposta. Pedimos cautela na disseminação de informações, evitando julgamentos prematuros que possam comprometer a correta apuração dos fatos e a contaminação das investigações. Confiamos nas instituições responsáveis e reafirmamos nossa total disposição para colaborar com o deslinde do inquérito.”
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