A corrupção política é apenas uma consequência das escolhas que fazemos
A ideia de que parlamentares são burros é uma percepção equivocada que temos dessa classe. Na verdade, a maioria deles possui inteligência acima da média, não apenas no sentido acadêmico, mas principalmente na habilidade de navegar nesse complexo jogo do poder. Vamos analisar isso em alguns aspectos, começando pela habilidade em persuasão e comunicação.
Parlamentares são mestres na arte da retórica. Eles sabem como usar as palavras para convencer eleitores, aliados e até adversários. Muitos dominam discursos ambíguos, onde falam muito, mas se comprometem pouco, deixando margem para interpretação. Alguns mais inventam até fake news a fim de se saírem bem com seus eleitores e com a população em geral. Especialmente depois do advento das redes sociais.
Os parlamentares de modo geral, têm a capacidade de manipulação por suas estratégias especificamente calculadas. A política é um jogo de influência e negociação. Deputados e senadores sabem exatamente como manipular situações em seu favor, seja por meio de alianças oportunistas, favores trocados ou estratégias de longo prazo para se manterem no poder. Mesmo que para isso abandonem os reais motivos para os quais foram eleitos. Tudo pela sobrevivência em um meio muito competitivo.
Na verdade, a política é um ambiente hostil, onde poucos conseguem manter-se por muito tempo sem que tenham habilidades estratégicas afiadas e bem sedimentadas. Um parlamentar incompetente dificilmente sobrevive mais de um mandato. Os que permanecem por décadas sabem exatamente como jogar o jogo, eles se adaptam a mudanças no cenário político, sejam essas mudanças para o bem ou para o mal, com ou sem inteligência emocional ou carisma. O ‘vem a nós’, para eles, vem antes do ‘vosso reino’, sempre. Mesmo quando não são intelectualmente brilhantes, muitos políticos têm uma inteligência emocional absurda. Eles sabem como ler e influenciar as emoções do público, criar conexões com eleitores e desviar de polêmicas quando necessário. Tal qual os mais famosos escritores, eles sabem construir frases difusas e complexas, sempre no intuito da manipulação. Muitos chegam a abdicar dos caminhos corretos, e se afundam em abismos profundos, como temos visto ultimamente. Outros se utilizam de informações desencontradas, tudo para iludir o eleitor. Outros mais controlam as narrativas, expressão que anda tão em voga nos últimos tempos.
Parlamentares têm acesso a informações privilegiadas e sabem como usá-las para moldar a opinião pública, seja por meio de discursos, de suas assessorias ou da imprensa. Alguns chegam a distorcer fatos para se beneficiar, manipulando dados estatísticos de forma conveniente, para eles, claro. Os políticos, especialmente os parlamentares, não são burros. Não são não! Pelo contrário, são extremamente astutos e habilidosos em suas áreas. E se há um problema na política, ele está mais relacionado ao uso dessas inteligências advindas de nossos parlamentares, que se utilizam disso muito mais para fins pessoais do que para o bem comum. Isso não significa que todo político seja assim, mas a estrutura do sistema favorece àqueles que sabem jogar o jogo com esperteza e frieza.
—————
(L. Pimentel)
The post ARTIGO: PARLAMENTAR, UMA CLASSE DE POLÍTICO EXTREMAMENTE INTELIGENTE appeared first on Folha do Estado SC.