Cidades inteligentes no Brasil: tecnologia avança, mas abismo digital persiste

Nos últimos anos, o conceito de cidades inteligentes tem se consolidado no Brasil, impulsionado pela necessidade de gestões públicas mais eficientes, sustentáveis e inovadoras. Um estudo conduzido pela Connected Smart Cities, envolvendo 159 representantes do ecossistema de cidades inteligentes no país, apontou três desafios fundamentais para o desenvolvimento desse modelo nos próximos 10 anos: sustentabilidade, tecnologia e inovação, e governança.

A infraestrutura digital surge como um ponto crucial, exigindo investimentos em conectividade 5G, plataformas de dados abertos e soluções tecnológicas que promovam maior eficiência na gestão pública e na interação com os cidadãos. No entanto, um dos desafios destacados pelo levantamento é garantir que a inovação tecnológica seja acessível a todas as camadas da população, evitando a ampliação da exclusão digital.

Para Fabiano Carvalho, especialista em transformação digital e CEO da Ikhon, o modelo de cidade inteligente precisa priorizar a experiência do cidadão e não apenas a implementação de novas tecnologias. “Para que uma cidade inteligente realmente beneficie seus habitantes, é essencial que as soluções tecnológicas sejam pensadas de forma inclusiva, contemplando tanto os grandes centros urbanos quanto as regiões periféricas”, afirma Carvalho.

A pesquisa também ressalta que a governança se configura como um dos principais desafios para a evolução das cidades inteligentes no Brasil. A integração entre diferentes níveis de governo, empresas e sociedade civil é fundamental para que as iniciativas sejam transparentes e efetivas. “A adoção de padrões de segurança e privacidade de dados é essencial para que a população confie nas soluções implementadas. A governança precisa estar alinhada às reais necessidades das pessoas”, complementa Fabiano.

Capital brasileira obteve certificação máxima em cidades inteligentes

Um exemplo de avanço nesse cenário é a cidade de São Paulo, que recentemente se tornou a primeira capital brasileira a conquistar a certificação máxima nas Normas ABNT NBR ISO. A cidade recebeu os selos ISO 37120 (Cidades Sustentáveis – Platina), ISO 37122 (Cidades Inteligentes – Ouro) e ISO 37123 (Cidades Resilientes – Platina). Para atingir esses níveis, diversos setores da administração foram avaliados, incluindo saúde, educação, segurança, infraestrutura e tecnologia.

Outros municípios brasileiros têm ganhado destaque como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Rio Verde, São Luís de Montes Belos e Silvânia, localizados no Goiás, que foram escolhidas pelo Sebrae para serem cidades-piloto no projeto Cidade Inteligente. O objetivo é promover uma transformação progressiva, tornando os municípios mais conectados às demandas da população

O futuro das cidades inteligentes no Brasil, como demonstram São Paulo e Goiás, dependerá de ações integradas entre setor público, privado e sociedade civil para garantir que os avanços tecnológicos resultem em melhorias concretas e acessíveis a toda a população, já que, segundo o IBGE, 5,9 milhões de domicílios do país ainda vivem em ‘desertos digitais’, áreas com acesso limitado ou inexistente à internet, fator que leva a exclusão da população de serviços digitais e o aumento das desigualdades sociais.

Autora:

Simone Oliveira

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