Estudo aponta deformidades graves em cavalos-marinhos; pesquisadores apontam que derramamento de óleo nas praias pode ter causado anomalias


Em 2019, praias de mais de 130 cidades foram atingidas por óleo. Em Pernambuco, pesquisadores acharam animais com nanismo e escoliose. Estudo aponta deformidades graves em cavalos-marinhos
Uma pesquisa identificou deformidades em cavalos-marinhos que vivem na região do Complexo Portuário de Suape, no Litoral Sul de Pernambuco. De acordo com os pesquisadores do Instituto Hippocampus, as características provavelmente têm a ver com desastre ambiental do derramamento de óleo ocorrido no litoral brasileiro em 2019 (veja vídeo acima).
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O estudo monitora a espécie Hippocampus reidi, típica de ambientes de mar e mangue. A análise foi feita por um ano com as populações de cavalos-marinhos que vivem no Rio Massangana e na Ilha de Cocaia, entre o Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, no Grande Recife.
Segundo a presidente do Instituto Hippocampus, Rosana Beatriz Silveira, os pesquisadores capturaram machos grávidos e esperaram o nascimento dos filhotes para estimar a fertilidade das populações. Ao fazer isso, os estudiosos constataram que, na Ilha de Cocaia, havia muitas deformidades entre os nascidos.
Entre os problemas observados estão escoliose severa e indivíduos com crescimento comprometido, até mesmo com nanismo. O estudo ganhou reconhecimento internacional ao ser publicado em uma revista científica.
Segundo Rosana Beatriz Silveira, ao que tudo indica, as anomalias foram causadas pelo desastre natural de 2019. Pelo menos 130 cidades que ficam no litoral brasileiro foram atingidas pelo óleo. Segundo a Marinha, o petróleo, que tem origem venezuelana, foi derramado a uma distância de 700 quilômetros da costa, e trafegou submerso por 40 dias. Não foram apontados culpados pelo desastre.
“Na época, vários outros invertebrados e outras faunas foram atingidas com o derramamento de petróleo. O cavalo-marinho foi o único vertebrado em que foi observado esse registro. Nós acreditamos que [as deformidades] sejam devido ao derramamento de petróleo, mas não temos como fazer a associação 100%, porque não temos medições anteriores dos hidrocarbonetos para comprovar cientificamente”, afirma Rosana Beatriz Silveira.
Letra A: cavalo-marinho sem deformidades; das letras B a H, indivíduos com anomalias; letra I, animais com nanismo e um com tamanho esperado
Instituto Hippocampus/Divulgação
A pesquisadora afirmou, ainda, que mesmo não sendo possível atestar totalmente a hipótese, o desastre ambiental causou danos consideráveis no ambiente. A conclusão do artigo traz duas hipóteses para as mutações nos cavalos-marinhos.
“Uma é que os contaminantes têm afetado diretamente as células reprodutivas dos cavalos-marinhos, causando as mutações, que é o que a gente via nos filhotinhos e não via no adulto que está lá no mangue. A outra é que, quando o óleo veio, foi tão tóxico e impactante que ele matou e reduziu a maioria da população, causando um efeito de gargalo. A população ficou tão pequena que foi havendo cruzamentos entre familiares, o que começou a causar as mutações. Uma coisa não exclui a outra”, afirmou a pesquisadora.
Pesquisas
O Instituto Hippocampus é uma ONG que está presente há mais de 20 anos em projetos de monitoramento e proteção da espécie pelo Brasil. Atualmente, devido à falta de financiamento e apoio adequado, o instituto enfrenta dificuldades.
O apoio do Complexo de Suape, que inicialmente cedeu espaço e recursos, vem sendo reduzido desde 2022, comprometendo o trabalho. O instituto busca novos parceiros e alerta que a situação é urgente: “Depois que a espécie for extinta, não há volta”, conclui Rosana.
Uma das pesquisas realizadas pelo instituto, feita entre 2016 e 2018 em cinco portos, estimou que 2 milhões de cavalos-marinhos foram tirados do mar pela pesca de arrasto industrial nas regiões Sul e Sudeste do Brasil.
Já no Litoral de Pernambuco, o trabalho de monitoramento entre 2001 e 2020 identificou que a poluição ambiental e os passeios turísticos de barco sem controle afetavam a vida dos cavalos-marinhos.
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