Painho merece todo o crédito

Todos os dias saem de casa um malandro e um otário. Se eles se encontram, dá negócio e, a cada dois anos no Brasil, o malandro acaba eleito.

Assistindo ao lançamento do programa Crédito do Trabalhador, sou obrigado a reconhecer que Lula, mesmo em fim de carreira, tem essa capacidade extraordinária de encantar jumentos, de fazer negócio em cima de gente otária, não importa se gente inocente.

Não é exclusividade na política, mas Lula e o PT se especializaram em tirar sarro da classe trabalhadora, vendendo picanha e entregando pé-de-galinha. Distribuindo bolsa família e recolhendo impostos, perdoando parte da dívida que você fez com juros mais baixos e te empurrando para empréstimos bem mais caros.

Votar em Lula é como pegar carona por dias na caçamba de um caminhão, atravessar o país em busca de trabalho e acabar na lavoura de um senhor de engenho. Não é Lula que trabalha para você, mas você que trabalha para Lula. Todo mês, a maior parte do seu salário é retido para quitar a dívida que você contraiu no fazendão de Lula, trabalhando de sol a sol com ‘suas ferramentas’, dormindo no quartinho dos fundos de ‘sua fazenda’ e, claro, comendo as sobras de suas refeições. Um privilégio.

No ano passado, Lula encantou seus eleitores endividados com o Programa Desenrola, pelo qual os bancos renegociaram cerca de R$ 53 bilhões em dívidas de mais de 15 milhões de pessoas, com um deságio de até 90%. Outros R$ 2 bilhões foram baixados de microempreendedores com o Desenrola Empresas. O cerne da ideia era formidável. Afinal, transformar crédito irrecuperável – crédito podre mesmo – em política pública de apelo social é ESG purinho! Parabéns à Febraban, que acabou economizando também em custas judiciais e administrativas da cobrança dessas dívidas.

Não dá para negar que a mudança de chave, de “agiota” para “filantropo”, tinha um quê de nostalgia dos tempos de vacas gordas dos primeiros mandatos de painho, quando o mundo demandava mais commodities do fazendão brasilis do que éramos capazes de fornecer, injetando bilhões de dólares numa economia ávida por crescimento, consumo e infraestrutura. Era tanto dinheiro que ninguém nem notava os 30% de comissão para fazer girar o engenho.

Só que a roda agora é quadrada. Uma gestão medíocre, perdulária, imprevisível. Rombo nas contas públicas cada vez maior, taxas de juros na Lua, crédito escasso, impostos e mais impostos. Não há remendo possível. Por isso, o novo programa de Lula. Que em vez de Crédito do Trabalhador, poderia se chamar Enrole-se De Novo ou Pague-me ou te devoro. Os bancões amigos de painho, afinal, precisam fechar suas projeções e distribuir dividendos. E se máquina de moer de juros sobre juros não pode parar, agora ela é turbinada por garantias inéditas. Além de descontar as parcelas das futuras dívidas diretamente do contra-cheque do trabalhador, os bancões poderão executar o saldo devedor diretamente das verbas rescisórias em caso de demissão.

Sim, a chave virou de novo, de filantropo para agiota. Tem que ser muito jumento mesmo para se deixar encantar.

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