Alemanha vai às urnas preocupada com imigração e economia

Eleitores da Alemanha vão às urnas neste domingo (23.fev.2025) para eleger os novos parlamentares depois do dissolvimento do Legislativo em função da queda da coalizão de Olaf Scholz (SPD, Partido Social Democrata, centro-esquerda) no final de 2024. Estão em jogo as 630 cadeiras no Bundestag (Parlamento alemão) e o cargo de chanceler –equivalente ao de primeiro-ministro. 

Segundo o agregador de pesquisas da Reuters, atualizado no sábado (22.fev), o partido de Fridrich Merz, o grupo CDU/CSU (União Democrata Cristã, centro-direita) é o favorito no pleito. Tem 29,4% das intenções de voto, ante 20,4% da AfD (Alternativa para a Alemanha, direita), liderada por Alice Weidel. O SDP (Partido Social Democrata, centro-esquerda) do atual premiê Olaf Scholz e os Verdes (centro-esquerda), de Robert Habeck, aparecem com 15,4% e 13,0%, respectivamente.

Desde o início da campanha eleitoral, os principais temas em debate entre os candidatos e os eleitores foram em relação à economia nacional e a imigração. Uma pesquisa realizada pela ARD-DeutschlandTrend mostrou que 37% consideram que a imigração será o principal problema enfrentado pelo próximo chanceler. 

A economia é citada por 34% dos entrevistados. Outros 13% mencionam proteção ambiental e climática como maior desafio do sucessor de Scholz, que disputa a reeleição. O levantamento entrevistou 1.000 eleitores alemães de 6 a 8 de janeiro de 2025. Eis a íntegra (PDF – 454 kB, em alemão).

O debate sobre imigrantes foi reaceso na Alemanha por atentados recentes cometidos por imigrantes. O maior deles em 13 de fevereiro em Munique, no sul da Alemanha. No episódio, um motorista jogou seu carro contra uma multidão de manifestantes. Duas pessoas morreram e quase 40 ficaram feridas. O suspeito é um solicitante de asilo do Afeganistão.

Em janeiro, outro ataque a faca deixou 2 mortos na cidade de Aschaffenburg, também no sul da Alemanha. O autor do crime seria outro solicitante de asilo do mesmo país.

O último caso foi na 6ª feira (21.fev), quando um homem esfaqueou e feriu um turista espanhol no memorial do Holocausto, em Berlim. Segundo a polícia, o autor do crime pretendia “matar judeus”.

O conservador Friedrich Merz, que concorre ao pleito pela CDU/CSU, encabeçou um projeto de lei no Parlamento para introduzir medidas que endurecessem as políticas de imigração no país. 

A medida foi aprovada em 29 de janeiro no Bundestag, com o apoio da AfD (Alternativa para a Alemanha). O episódio quebrou o acordo que os partidos alemães, incluindo a legenda de Merz, firmaram para não apresentar projetos que pudessem ser apoiados pela sigla de direita, a fim de isolá-la.

O AfD, anti-islã e anti-migração, pede que as fronteiras sejam fechadas e que os requerentes de asilo não tenham mais o direito à reunificação familiar. Alguns integrantes do partido pedem a deportação de milhões de pessoas de origem estrangeira, incluindo cidadãos alemães.

O próprio SPD, do atual chanceler Olaf Scholz, endureceu sua posição ao impor controles de fronteira mais rigorosos e acelerar as deportações, embora também queira trazer mais trabalhadores estrangeiros qualificados.

Em contraste, os Verdes mantêm uma política de asilo mais aberta e querem promover iniciativas de resgate marítimo apoiadas pelo Estado e simplificar os processos de reunificação familiar e melhorando a integração.

Recessão econômica

Outro ponto muito abordado durante a corrida eleitoral, a economia, preocupa os eleitores por causa da desaceleração vista nos últimos anos. Em 2024, a economia alemã contraiu pelo 2º ano consecutivo, sendo o pior desempenho do país em duas décadas. O resultado é consequência dos altos preços de energia, em parte impactados pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

A CDU, SPD e Verdes concordam em expandir a energia renovável para reduzir custos, mas diferem em abordagens de financiamento. A CDU e a AfD também propõem avaliar um retorno à energia nuclear, uma ideia rejeitada pelo SPD e pelos Verdes. A AfD se opõe totalmente aos subsídios à energia renovável.

Scholz propôs incentivar o investimento privado e modernizar a infraestrutura com um fundo fora do orçamento de 100 bilhões de euros. Seu partido também planeja um reembolso de imposto direto de 10% sobre investimentos em equipamentos por empresas.

Robert Habeck, do Partido Verde, assim como Scholz, pede a reforma do freio da dívida consagrado constitucionalmente na Alemanha para permitir maiores gastos públicos.

Friedrich Merz, por sua vez, também sinalizou alguma abertura para uma reforma moderada do freio da dívida, mas o manifesto de seu partido prometeu mantê-lo. 

QUEM SÃO OS CANDIDATOS

  • Friedrich Merz

Friedrich Merz, de 69 anos, é formado em Direito e Ciência Política nas cidades de Bonn e Marburg. Entrou na CDU em 1972, ainda no período escolar, e se tornou presidente da União Jovem da CDU anos depois. 

Começou a carreira na política em 1989, quando foi eleito deputado pelo Parlamento Europeu. Trabalhou para a região da Vestfália do Sudoeste como integrante do Parlamento em Bruxelas e Estrasburgo durante 5 anos. Depois, integrou o Bundestag (Parlamento alemão) de 1994 e 2009. 

Em 2000, foi eleito presidente do grupo CDU/CSU pela 1ª vez. Advogado por formação, Merz trabalhou como juiz e depois se tornou advogado sênior no escritório de Düsseldorf da Mayer Brown até o final de 2021, quando assumiu a presidência da CDU. 

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Reprodução/X @CDU

  • Olaf Scholz

O atual chanceler tem 66 anos e é advogado formado pela Universidade de Hamburgo. Ingressou no SPD (Partido Social Democrata) aos 17 anos e rapidamente se destacou como um líder do braço juvenil do partido, conhecido como Jusos. Sua ascensão no SPD o levou a ocupar altos cargos, incluindo o de Ministro das Finanças de 2018 a 2021.

Olaf Scholz é casado com Britta Ernst, também política do SPD. O casal, que antes residia no distrito de Altona, em Hamburgo, mudou-se para Potsdam em 2018.

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Reprodução/X @Bundeskanzler

  • Alice Weidel 

Alice Weidel, de 46 anos, estudou economia e administração de empresas na Universidade de Bayreuth. Começou a carreira política em 2013, quando ingressou na AfD (Alternativa para a Alemanha). Desde então, trabalha com políticas que se concentram nos interesses dos cidadãos – longe das restrições ideológicas e dos interesses das elites políticas.

Foi eleita para o Parlamento alemão em 2017 e, junto com seu colega de partido Alexander Gauland, foi uma das candidatas à chancelaria. Em seu papel como parlamentar, defende políticas de imigração mais restritivas e critica a integração europeia, argumentando que a Alemanha deve priorizar seus interesses nacionais.

Alice Weidel é uma figura controversa, muitas vezes envolvida em debates acalorados, especialmente sobre imigração e políticas sociais. Também se posiciona contra a política do governo em relação à energia renovável e defende uma abordagem mais pragmática e focada em interesses econômicos.

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Divulgação/AfD

  • Robert Habeck

O candidato do Partido Verde tem 55 anos e é formado em filosofia pela Universidade de Hamburgo. Começou sua carreira política em 2004, quando ingressou no partido. É vice-chanceler e ministro de Assuntos Econômicos do Ministério Federal de Assuntos Econômicos e Proteção Climática do governo de Olaf Scholz. 

Suas principais questões defendidas são o meio ambiente e a transição energética em todo o país. “Nossa economia é global. Nossos valores são universais. A crise climática é global. Quem quer liberdade e democracia deve cuidar da Europa e ficar de olho no mundo”, afirma o candidato. 

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Divulgação/Verdes

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