Pesquisadora registra baleia-jubarte branca na Antártica


Entre as 125 mil baleias que migram pela costa oeste da América do Sul, o indivíduo é o único com essa condição rara. Baleia-jubarte com leucismo é avistada na Antártica
Um registro surpreendente foi realizado nas águas da Antártica: a única baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) leucística conhecida entre os 25 mil indivíduos que migram pela costa oeste da América do Sul, conhecida como Suru ou Esperanza, foi registrada pela bióloga marinha e mestre em Oceanografia Biológica, Daniela Abras, no fim de janeiro.
O avistamento ocorreu no dia 27 de janeiro, enquanto Daniela guiava uma expedição pelas águas do Atlântico Sul pela empresa Antarctica21. Durante o trajeto, a pesquisadora comentou com a equipe que estavam entrando na área onde a baleia havia sido vista no ano anterior.
Apenas uma hora e meia depois, uma silhueta branca flutuando no mar chamou a atenção dos tripulantes. A princípio, a especialista em baleias pensou que se tratava de uma carcaça, já que baleias mortas costumam perder a coloração e permanecer à deriva. Mas, ao observar pelo binóculo, viu o animal se mover e pôde ter a certeza.
“Eu já saí correndo para fora gritando. Eu comecei a tremer de um jeito que eu não conseguia falar. Eu não consegui tirar o olho da câmera”, diz a pesquisadora.
Jubarte com leucismo foi avistada durante expedição na Antártica
Daniela Abras
A emoção tomou conta da pesquisadora. A embarcação se aproximou e, diante do grupo de turistas e tripulantes, a baleia nadou próxima ao navio, permitindo um registro inédito. A confirmação veio após cruzamento de dados com o Happy Whale, plataforma que monitora cetáceos ao redor do mundo.
“Eu acho que eu nunca vou nem conseguir explicar o que senti aquele dia para te falar a verdade. Foi de um momento de muita euforia pra um silêncio total, de todo mundo ficar em estado de contemplação máxima. Quando a gente foi embora depois disso, eu comecei a chorar e eu não consegui parar”, explica a especialista em baleias.
O leucismo, condição genética rara que causa a despigmentação parcial ou total da pele, já foi documentado em algumas espécies de cetáceos, mas apenas seis jubartes leucísticas são conhecidas em todo o mundo. Não é possível confirmar se o indivíduo possui albinismo, pois estudos mais avançados precisam ser realizados.
A única forma de você afirmar 100% de certeza que é um albino é na coleta de material de DNA. Você tem que ver uma proteína específica no DNA dele para saber se realmente tem o tipo da mutação genética que causa o albinismo. A gente não sabe nem se é macho ou fêmea também, né? Temos também tem que deixar claro isso
As baleias-jubarte podem atingir até dezesseis metros de comprimento
Daniela Abras
O caso de Suru é ainda mais excepcional, pois além de ser a única registrada que tem sua rota de migração na costa oeste da América do Sul, sobreviveu aos primeiros anos de vida, período crítico para a espécie. O indivíduo já havia sido registrado anteriormente na Costa Rica em outubro de 2022, quando ainda era filhote, e posteriormente no Peru e na própria Antártica.
“Eu trabalho como baleias já tem 15 anos. Eu já vi baleia de tudo quanto é jeito, em tudo quanto é lugar do mundo, e um dos meus maiores sonhos era ver a Migaloo. Então para mim ver essa baleia leucística é praticamente ver o Migaloo, mas na nossa região aqui, digamos assim”, informa Daniela.
Segundo a especialista, por ser mais visível do que outras jubartes, a baleia pode estar mais vulnerável a predadores como as orcas, o que torna seu monitoramento essencial para pesquisadores que estudam os impactos dessa condição na vida marinha.
“A gente sabe que uma baleia que é totalmente diferente dos demais, ela fica mais vulnerável. E a gente sabe que uma baleia, e principalmente nesses primeiros anos de vida, elas ficam mais vulneráveis principalmente com a predação, porque os principais predadores das jubartes são as orcas. Então uma baleia branca possivelmente ela é muito mais visível dentro de outras baleias, né? “, esclarece a especialista.
Baleias-jubarte
De acordo com Daniela, a população de baleia-jubarte é estimada em 140 a 160 mil indivíduos, com 6 desses sendo leucísticos confirmados. A população que tem a rota de migração pela costa-oeste da América do Sul é estimada em torno de 125 mil, com Suru sendo o único indivíduo confirmado até o presente momento.
Indivíduo é o único com condição rara que realiza rota de migração pela costa-oeste da América do Sul
Daniela Abras
As baleias são indivíduos migratórios que migram das regiões tropicais, onde se reproduzem, para regiões polares, onde se alimentam. Elas se alimentam de krill antártico, se alimentando de uma tonelada por dia enquanto permanecem nas áreas de alimentação, cerca de 4 meses no ano. Quando voltam as regiões tropicais, ficam cerca de 8 meses sem se alimentar.
As baleias-jubarte podem atingir até dezesseis metros de comprimento e pesar cerca de quarenta toneladas, sendo facilmente identificáveis pelas suas nadadeiras peitorais, que podem atingir 1/3 do comprimento do corpo.
*Texto sob supervisão de Lizzy Martins
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