Títulos e momentos icônicos: irmãs coreógrafas completam 20 anos de carnaval em escolas diferentes


Priscilla Mota e Claudia Mota atualmente comandam as comissões de frente da Viradouro e da Paraíso do Tuiuti, respectivamente. Relembre a carreira e as conquistas das irmãs bailarinas que já escreveram seus nomes na história do carnaval carioca. Irmãs de sangue, mas rivais no carnaval
Priscilla e Claudia são bailarinas e coreógrafas. As duas cultivam a mesma paixão pelo carnaval e comandam as comissões de frente da Viradouro e da Paraíso do Tuiuti, respectivamente. As irmãs, que completam 20 anos de Marques de Sapucaí esse ano, voltam a disputar a nota 10 em família.
Se as escolas de samba do Rio de Janeiro são de fato uma grande família do carnaval, as irmãs Mota representam essa união e o amor que existe entre adversárias na avenida.
“As pessoas até acham que a gente é gêmea, né? Às vezes a gente confunde os barracões”, comentou Priscilla bem-humorada.
As histórias das duas se confundem. Claudia começou no balé e inspirou a irmã mais nova a seguir seus passos. Ela chegou a ser a primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio, enquanto Priscilla foi primeira solista.
“Eu comecei a fazer balé porque eu imitava ela em casa”, conta Priscilla.
“O que já era difícil no Municipal ficou ainda mais difícil no carnaval, que é conciliar a carreira de bailarina com a carreira de coreógrafo de carnaval”, disse Priscilla.
Claudia Mota ao lado da foto dela como primeira bailarina do Teatro Municipal
Reprodução redes sociais
As duas começaram juntas no mundo do carnaval, em 2005, na Tradição. Na época, Priscilla foi bailarina da comissão de frente da escola e Claudia atuou como assistente do coreógrafo.
“Quando a gente faz essa estreia na Tradição, eu entendi que não ia mais conseguir ficar longe. Eu amei a experiência como bailarina, mas acabei virando assistente do coreógrafo na Tijuca em 2006”, contou Priscilla.
As duas irmãs seguiram trabalhando juntas até 2008, quando os caminhos começaram a desencontrar. Priscilla se casou com o também coreógrafo Rodrigo e os dois viraram uma dupla, à frente da Viradouro.
Priscilla Mota, Grande Rio
Reprodução / G1
Mesmo separadas, as duas criaram trabalhos incríveis e viraram referência uma para a outra. Priscilla destacou o trabalho da irmã no Império Serrano e na Paraíso do Tuiuti.
“No Império Serrano era uma comissão de chão, não tinha elemento alegórico. Era pura criatividade, dança e musicalidade”.
“E a desse ano da Paraíso Tuiuti, dos marinheiros, eu acho que é uma comissão assim que parecia um grande musical. Era um palco, era um musical muito bem dançado e muito bem interpretado”, analisou Priscilla.
Já Claudia lembra logo de um grande sucesso da irmã, em 2011, quando ela assinou a comissão de frente da Unidos da Tijuca, no título histórico da escola, com o enredo sobre o segredo.
“Tem uma comissão que eu sou apaixonada que é da cabeça, a que a cabeça caía. Eu achei aquilo genial. É a Tijuca 2011. Eu achei assim fantástico tudo aquilo”, lembrou Claudia.
Viradouro testa ‘cobra’ da comissão de frente antes de entrar na Sapucaí
Outro destaque de Priscilla relembrado pela irmã foi de um carnaval mais recente, em 2023, na Viradouro.
“A Rosa Maria, pelo samba, pela concepção, pela beleza do carro. Aquele quadro parecia um quadro vivo. Não sei se eu tô falando isso porque era isso, mas assim que eu entendia. Era um quadro vivo. A menina que interpretou a Rosa Maria, o samba, tudo lindo, maravilhoso”, recordou Claudia.
Divisor de águas
Para Priscilla o grande divisor de águas de sua carreira foi o carnaval de 2010, também na Tijuca. A comissão de frente que está na memória de todo amante do carnaval, com as bailarinas que trocavam de roupa várias vezes no desfile, em poucos segundos, na frente de todos e ninguém sabia dizer como a mágica acontecia.
“Foi aquela loucura que todo mundo lembra até hoje. A comissão de frente que realmente é citada como um divisor de águas do próprio quesito”, relembra Priscilla.
Comissão de frente da Unidos da Tijuca trocou de roupa na Sapucaí em 2010
Outra conquista da coreógrafa aconteceu no título da Viradouro de 2024, quando uma enorme serpente tomou conta da avenida e encantou o público.
“No ano passado com a serpente. Em 2024, 14 anos depois, a gente também trouxe uma um signo visual que vai ficar marcado. Todo mundo fala que eu sou a mãe da cobra”, se alegra Priscilla.
Ao lado, Claudia completa definindo o papel das duas no carnaval.
“Ela fala que eu sou uma referência na dança e eu falo que ela é uma referência no Carnaval”, disse Claudia.
Força para continuar
Há dois anos, Claudia pensou em deixar o carnaval e tocar a vida com outros projetos. Contudo, foram as palavras da irmã que a fizerem retomar as energias e seguir trabalhando com o que ama.
“Há dois anos, eu posso dizer que eu vivi uma situação muito inesperada. Eu não queria mais fazer carnaval, não queria mais fazer comissão de frente. Eu queria me dedicar a minha vida de bailarina. Mas ela (Priscilla) virou para mim e disse assim: ‘Clau, se você acha que você não precisa, você não tem mais que mostrar nada para ninguém'”, contou.
A coreografa da Paraíso do Tuiuti disse ao RJ2 que atualmente vive seu melhor momento no carnaval. Claudia lembrou a satisfação que encontrou em seguir em frente e ajudar a dar oportunidades para outras pessoas.
“Hoje eu tô dando emprego para 16 mulheres trans que não tinham emprego, não tinham perspectiva de vida. Estão entrando para fazer um marco, um desfile no carnaval”, disse Claudia.
Nesse carnaval, a Paraíso do Tuiuti contará na avenida a história de Chica Manicongo, considerada a primeira mulher trans do Brasil.
Já a Viradouro, fala sobre Malunguinho, uma entidade em comum das culturas afro e indígena.
“A comissão de frente esse ano vem bem aguerrida, vem muito forte. Ela vem encantada e estamos trabalhando muito para encantar mais uma vez, para trazer a nota para nossa escola e tentar trazer o bicampeonato”, contou Priscilla da Viradouro.
“A gente vem para cá para realmente bater cabeça, porque é de enlouquecer. Mas no final, quando aquele portão abre e toca aquela sirene, nossa, é demais”, suspirou Claudia da Tuiuti.
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