Galípolo indica Selic mais alta, apesar de ser “desconfortável”

O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, indicou nesta 4ª feira (12.fev.2025) que a taxa básica de juros, a Selic, caminha para um patamar “historicamente elevado” e que, apesar de “desconfortável”, é um nível seguro para levar a inflação à meta.

Ele participou de um evento promovido pelo IEPE/CdG (Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças), no Rio de Janeiro.

Assista:

O Banco Central subiu a taxa básica de juros, a Selic, para 13,25% ao ano em janeiro, e sinalizou que irá elevar para 14,25% ao ano em março. O juro base está há 3 anos acima de 10% e, segundo as projeções dos agentes financeiros, atingirá o patamar de 15% neste ano, o maior nível desde 2006.

A Selic elevada serve para controlar a taxa do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que está em 4,56% no acumulado de 12 meses. A inflação do Brasil está acima da meta de 3% e além do teto (4,5%) permitido. O Banco Central disse que deverá descumprir a meta de inflação em junho.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 4ª feira (12.fev.2025) que Galípolo vai “consertar” os juros”, mas precisa de tempo. Antes, era crítico do ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto.

Galípolo disse que o Banco Central deu um “passo claro” para colocar a Selic em patamar restritivo “com alguma segurança”.

Ele afirmou que a Selic está caminhando para um patamar historicamente elevado. O Banco Central irá agora observar os “mecanismos” de transmissão da política monetária e irá assistir um processo de desaceleração da atividade econômica.

“É lógico que você assiste um momento ou deve passar por um momento no curto prazo que é desconfortável para a sociedade como um todo, para as empresas e para as famílias. A inflação deve seguir num patamar desconfortável, fora da meta, repercutindo todos os eventos do passado e você espera que a política monetária vá fazendo efeito gradativamente, apresentando um processo de desaceleração”, disse.

Galípolo defendeu que o Banco Central tenha sempre uma reação preventiva. Também disse que a autoridade monetária deve ter uma função de reação “assimétrica para altas e para baixas”.

E completou: “Se o Banco Central deve ser mais agressivo no momento de altas, deve ser mais parcimonioso e cauteloso no momento de fazer qualquer movimento para baixo”.

O presidente do Banco Central disse que “vai tomar o tempo necessário” para ter a certeza de que os dados de atividade econômica são dados que “confirmam uma tendência e não, simplesmente, volatilidade de dados de alta frequência”.

ATIVIDADE ECONÔMICA

Galípolo disse que o Brasil cresceu, em 2024, a uma taxa superior ao que se esperava. As projeções dos agentes financeiros indicavam uma taxa de expansão de 3,5% no ano passado.

O presidente do BC afirmou que os crescimentos têm sido acima do PIB potencial estimado pelo mercado. Ele afirmou que as reformas estruturais aprovadas nos últimos anos podem ter contribuído, mas afirmou que essa é uma “hipótese depende de mais investigação e mais tempo”.

Ele disse que é difícil encontrar “evidências de ganho de produtividade” para além do setor de agricultura.

IMPULSO FISCAL

Galípolo avalia que o pagamento de precatórios –que são decisões judiciais– tem importância na injeção de recursos na economia. Sob o governo de Jair Bolsonaro (PL), houve o postergamento destes recursos. O governo Lula fez o pagamento de recursos por fora das regras do marco fiscal, que estabelece um teto de despesas.

“Os precatórios tinham um efeito de impulso fiscal significativo”, declarou Galípolo.

O presidente do BC declarou que as revisões das estimativas do resultado primário das contas públicas e da dívida bruta do Brasil não foram “tão acentuadas assim”. Afirmou que os resultados de 2024 foram “melhores do que se imaginava”.

E completou: “O que eu suponho é que, para o mesmo nível de gasto fiscal, que já se imaginava no começo do ano, começou a produzir um impulso [fiscal] maior que se imaginava”.

Segundo Galípolo, uma das possibilidades para o impulso fiscal maior é o efeito distributivo na política de distribuição de renda, como o Bolsa Família. “[A política de distribuição de renda] Acaba colocando dinheiro na mão de quem tem uma propensão a consumir mais elevada e isso apresenta uma resiliência maior e um impulso maior do ponto de vista da demanda que me parecem ter traduzido nas questões das pressões inflacionárias, somados a questões de impacto climático e mais a desvalorização da moeda que a gente assistiu ao longo dos anos de 2024”, disse.

Galípolo afirmou que esse cenário é quase um gabarito dos motivos para iniciar o ciclo de alta dos juros.

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