Opinião Forti | O Verão e as minhas Gafes

Saí alguns dias de férias antes de assumir novos compromissos profissionais em fevereiro. Tinha alinhado com o Chico de mandar escritos, mas acabei cometendo a gafe de confundir a quarta com a quinta, ou seria sexta? Férias são férias, mas não são mais tão férias como eram antes, não é mesmo?

A conectividade nos deixa mais ligados em tudo. Não conseguimos deixar a vida profissional totalmente de lado. Tentamos, mas às vezes fica difícil. Além disso, as relações de trabalho também mudaram, com pessoas preferindo sair em períodos mais curtos e mais vezes durante o ano. Lembro-me dos anos 80 e até o final dos anos 90, quando em fevereiro nossas cidades ficavam desertas. Muitos estabelecimentos aproveitavam para dar férias coletivas. Era normal as famílias se mudarem para o litoral. Quem não tinha casa, alugava. Pegava um quarto com meia pensão no Hotel Galo em Curumim, por exemplo. Eram 20, 30 dias. Ficar em Canela era como o episódio do Chaves em Acapulco. Toda a vila empolgada para viajar e você ali com a música triste ao fundo.

Opções para curtir o verão aqui na região existiam, mas muitas eram perigosas. Perdi amigos e conhecidos no Poço da Faca, na Barragem do Salto e no Panelão. Era o que tínhamos para fazer por aqui, mas a segurança era pouca e a informação era mínima.

O verão também era forte no Canela Tênis Clube, com a piscina gigantesca e o festão de início da temporada, mas não era para todos. De graça, só nesses locais alternativos e, infelizmente, arriscados. O Carnaval ainda dava uma movimentada, com os blocos se organizando e culminando com os bailes em Serrano, Minuano, Rua Coberta e Recreio. Bons tempos.

Falar de verão é lembrar de sabores como as pizzas do Tropical do Tio Saulo (que, obviamente, tocava clássicos do Belchior e do Raul em algum momento). Era ficar com a galera tomando umas geladas na frente do Art Dog. O verão era o momento de comer uma Gilda (coca-cola com sorvete de creme ou flocos), pedir uma Cassata de sobremesa na Cantina do Nono do Dirceu Borboleta e ficar até mais tarde sentado no muro do Banrisul, conversando com os amigos (não tinha celular, não esqueçam desse detalhe) e ouvindo surf music com hits de bandas como Spy Vs Spy, Outfield e Australian Crawl, em toca-fitas de última geração da Pioneer.

Os domingos de ressaca do verão eram revigorados com um quarto de bife à milanesa no Bifão, servidos pelo Chaminé, que também estava de ressaca. As tardes de domingo eram animadas com sorvetes na confeitaria Marta: Sundae ou Banana Split, você escolhia, mas tinha que ter bastante chantilly. Para quem queria variar, tinha os sorvetes da Urca, ou na correria, os “picolezeiros” da Sorvelândia quebravam o galho com os carrinhos passando pelas ruas da nossa cidade. Ao final do domingo, pegávamos nosso telefone fixo e ligávamos para os amigos e para as “gatinhas” para saber das novidades de quem tinha ido para a praia e atualizar os mesmos de tudo o que tinha acontecido por aqui. Afinal, domingo era apenas um pulso e a conta telefônica não iria estourar. Esse era o nosso verão, que passava de forma lenta para quem ficava na Serra Gaúcha.

Digo isso porque hoje, mesmo estando a quilômetros de distância das nossas cidades, eu me atualizo em tempo real de tudo o que acontece. E algumas coisas nem parecem ter mudado tanto. Lembro que no final dos anos 80 tivemos racionamento de água, com dias e dias sem abastecimento. E não é que agora diversos logradouros seguem com o mesmo problema neste verão? Quase 40 anos depois, a Corsan segue fazendo muito pouco (ou quase nada, na real) por quem paga muito caro pelo seu serviço. Tem coisas das quais não precisamos ter saudosismo. Essa é uma delas.

Sobre esporte, tenho acompanhado os escritos do nosso diretor Chico sobre as celeumas em relação ao nosso sonhado ginásio, sobre como será 2025, sobre quem tocará o DMEL, e até vi diversos comentários de pessoas falando que tem que ter dinheiro para saúde e educação, misturando alhos com bugalhos. Prometo que vou me espraiar sobre isso ainda esta semana. Mas por hora, vou passar um caladril, pois tomei um torrão. Sabem como é. Tem coisas que realmente nunca mudam!

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