BC descumpriu 3 das últimas 6 metas de inflação

O BC (Banco Central) descumpriu 3 das últimas 6 metas de inflação. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta 6ª feira (9.jan.2025) que a taxa anual de inflação foi de 4,83% em 2024, acima do intervalo permitido.

O ano de 2024 foi o último que o objetivo da inflação terá como referência o acumulado de 12 meses até dezembro. A nova meta contínua estabelece que haverá um descumprimento quando a taxa ficar fora do intervalo permitido por mais de 6 meses, mas a norma só vale a partir de janeiro de 2025.

O CMN (Conselho Monetário Nacional) estabeleceu uma meta de inflação de 3% para 2024. Há uma margem de tolerância: de 1,5% para 4,5%. Como a inflação ficou acima deste patamar, o BC terá que se explicar publicamente.

Nos últimos 6 anos, o BC descumpriu as metas de 2021, de 2022 e de 2024. O Brasil e os países sofreram com um ciclo de inflação mais alta depois dos estímulos fiscais e monetários adotados durante a pandemia de covid-19.

META DE INFLAÇÃO

Antes de deixar o cargo, em dezembro de 2024, Campos Neto havia declarado que sua gestão começou “cumprindo a meta” e que, nos anos de pandemia de covid-19, houve um choque inflacionário “muito grande” no mundo. De acordo com ele, nenhum país atingiu a meta de inflação no período, assim como em 2024.

Em 2024, se você olhar, nenhum país atingiu a meta. Nem o Brasil e nem nenhum. A gente precisa colocar essa afirmação de um contexto global, de um fator muito atípico que aconteceu, que foi a pandemia”, disse o economista.

O ex-presidente do BC declarou que a autoridade monetária brasileira foi a 1ª a subir juros na pandemia e que a inflação nacional foi uma das primeiras a começar a cair.

HISTÓRICO DE EVENTOS

Campos Neto teve eventos favoráveis e contrários à política monetária durante a gestão. Eis alguns destaques, separados por cada ano:

  • 2019
    • aprovação da reforma da Previdência Social;
    • aprovação da MP de Liberdade Econômica;
    • guerra comerciais entre China (Xi Jinping) e Estados Unidos (Donald Trump).
  • 2020
    • início da pandemia de covid-19;
    • estímulos fiscais e monetários para conter impacto da crise sanitária;
    • governo zera imposto para importação do arroz;
    • Joe Biden é eleito presidente dos Estados Unidos;
  • 2021
    • início da vacinação contra a covid-19;
    • Congresso aprova autonomia operacional do Banco Central;
    • governo sanciona ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nacional para diesel, gasolina e gás;
    • crise energética que resultou em criação da bandeira tarifária de escassez hídrica;
  • 2022
    • guerra entre Ucrânia e Rússia;
    • barril do petróleo supera US$ 120 em março;
    • eleições 2022: país elege Lula.
  • 2023
    • críticas do governo à política monetária de Campos Neto e ao regime de meta;
    • início da guerra entre Hamas e Israel;
    • indicações de diretores testam a autonomia do BC;
    • Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) aumenta os juros para o intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, patamar que ficou até setembro de 2024;
    • governo derruba teto de gastos e cria nova regra fiscal;
    • reforma tributária é aprovada no Congresso.
  • 2024
    • marco fiscal é flexibilizado com metas menos rígidas;
    • CMN (Conselho Monetário Nacional) estabelece meta contínua de inflação de 3%;
    • Donald Trump é eleito presidente dos EUA;
    • mesmo com taxa Selic acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, a taxa de desemprego atingiu o menor patamar da série histórica, iniciada em 2012;
    • governo apresenta pacote fiscal considerado pouco ambicioso pelos agentes financeiros.

HISTÓRICO DAS CARTAS

O Banco Central descumpriu a meta de inflação em 8 oportunidades até 2024. Armínio Fraga, Henrique Meirelles, Alexandre Tombini e Ilan Goldfajn também tiveram que encaminhar cartas ao Ministério da Fazenda com as justificativas. Eis abaixo os documentos já divulgados:

  • 2001 (carta feita em janeiro de 2002 sobre inflação de 2001);
  • 2002 (carta feita em janeiro de 2003 sobre inflação de 2002);
  • 2003 (carta feita em fevereiro de 2004 sobre inflação de 2003);
  • 2015 (carta feita em janeiro de 2016 sobre inflação de 2015);
  • 2017 (carta feita em janeiro de 2018 sobre inflação de 2017);
  • 2021 (carta feita em janeiro de 2022 sobre inflação de 2021);
  • 2022 (carta feita em janeiro de 2023 sobre inflação de 2022);

Só em 2017, durante a gestão Ilan Goldfajn, que a inflação terminou o ano abaixo do intervalo permitido. Na ocasião, o então presidente do Banco Central afirmou que a queda no preço de alimentos em domicílio pressionou o índice para abaixo do piso. O taxa do IPCA ficou acima do teto da meta em 2001, 2002, 2003, 2015, 2021 e 2022.

O regime de metas de inflação foi criado em 1999 no país. Os percentuais são estabelecidos pelo CMN. Atualmente, é composto pelos ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo.

A autoridade monetária adota as medidas necessárias para alcançar o índice determinado, como alterar a taxa básica de juros, a Selic. A meta tem um intervalo de tolerância, atualmente de 1,5 ponto percentual. Acesse aqui o histórico.

SELIC E CRÍTICAS

Lula e aliados criticaram Campos Neto, ex-presidente do BC, pelo patamar da taxa Selic. Acusaram-no de prejudicar o país com os juros altos no período da gestão PT.

Depois de subir os juros em 11,75 pontos percentuais de 2021 a 2022, o Banco Central voltou a cortar os juros em agosto de 2023. O ciclo de redução –que teve início no governo Lula– durou até junho de 2024, com a manutenção do indicador em 10,5% ao ano. O cenário global adverso, as incertezas sobre as contas públicas e o mercado de trabalho aquecido voltaram a elevar as expectativas futuras para a inflação.

A Selic voltou a subir em setembro de 2024. Começou com uma alta de 0,25 ponto percentual, que acelerou a cada reunião. O BC disse que haverá mais duas altas de 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões, o que deve levar o juro base a 14,25% ao ano.

Galípolo (que esteve de julho de 2023 a dezembro de 2024 à frente da Diretoria de Política Monetária do BC) e os demais diretores indicados por Lula só divergiram uma vez de Campos Neto.

O voto do atual presidente e de outros diretores indicados por Lula teve peso maior nas últimas reuniões de 2024.

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