IMPLANTAÇÃO DE UM TÚNEL SUBAQUÁTICO PODE RESOLVER A MOBILIDADE ENTRE NAVEGANTES E ITAJAÍ

Contrato tem assinatura marcada para março/2025

Uma obra inédita no Brasil está surgindo como promessa para solucionar debaixo d’água os problemas de mobilidade entre as cidades de Itajaí e Navegantes, no litoral norte de Santa Catarina. Está previsto para 2026 o início da construção de um túnel subaquático de aproximadamente 580 metros de extensão e seis pistas para veículos, localizado entre 23 e 29 metros abaixo do leito do rio Itajaí-Açu.

A região que abriga o segundo maior complexo portuário do Brasil, na movimentação de contêineres, está bem posicionada às margens da BR-101 e próxima aos principais pólos econômicos do Sul e Sudeste. No entanto, a região ainda enfrenta desafios de transporte que estrangulam seu potencial de crescimento.

– A nossa região é muito forte em logística, mas, para atrair novas empresas, a gente precisa fundamentalmente eliminar o gargalo da mobilidade – aponta o engenheiro João Luiz Demantova, ele que é o coordenador técnico do CIM-AMFRI – Associação dos Municípios da Região da Foz do Rio Itajaí – entidade que tomou a iniciativa pelo projeto.

O túnel é a parte mais ambiciosa do Promobis – Projeto de Mobilidade Integrada e Sustentável – um projeto amplo de mobilidade orçado em US$ 340 milhões (R$ 2,07 bilhões, na cotação atual), em uma PPP (parceria público-privada) entre a CIM-AMFRI, com apoio do Banco Mundial, e o governo catarinense, que assinou em outubro um protocolo de intenções para aportar US$ 24 milhões.

Demantova lembra que esse projeto de mobilidade surgiu em 2015, quando foi identificada a urgência de obras que facilitem a mobilidade na região. A distância por estrada entre Itajaí e Navegantes é de pouco mais de 21 km, mas os engarrafamentos são frequentes e atrasam o trajeto. Segundo o engenheiro, outras alternativas foram cogitadas antes para conectar as duas cidades, separadas pelos quase 350 metros de largura do rio Itajaí-Açu.

– Para não criar obstáculos à navegação portuária, uma ponte precisava ter pelo menos 65 metros de altura, para que os navios pudessem passar tranquilamente sob ela – explica Demantova. “Mas, como nós temos o aeródromo de Navegantes do outro lado, não era possível, porque o aeródromo permite apenas obstáculos de até 45 metros de altura”.

Também havia sido considerada a construção de uma ponte móvel, daquelas de abrir e fechar, mas a necessidade de dois sistemas separados para seu funcionamento aumentaria os custos de manutenção e dobraria os riscos de problemas no tráfego. Diante disso, o túnel surgiu como a opção mais viável.

A construção será feita com módulos pré-fabricados, que serão submersos e selados sob o canal de navegação que conecta os portos das duas cidades. O governo do estado será responsável pelo edital da obra para contratação da empresa que fará a construção, que está orçada inicialmente em US$ 180 milhões.

– A tecnologia para construção de túneis não chegou ainda muito no Brasil, mas, tanto na Ásia como na Europa, ela já é uma constante. Portanto, tem tecnologia bastante robusta à disposição para esse tipo de obra – destaca Paulo Bornhausen, secretário estadual de Articulação Internacional e Projetos Estratégicos.

O projeto do túnel inclui três faixas de tráfego em cada direção, sendo uma destinada ao transporte rápido por ônibus (BRT) e áreas de circulação para pedestres e ciclistas. Os custos operacionais serão parcialmente financiados por meio da cobrança de pedágio, com tarifas estimadas entre R$ 4,50 e R$ 10, dependendo do modal.

O consórcio reunirá os seguintes municípios: Itajaí, Navegantes, Balneário Camboriú, Camboriú, Bombinhas, Ilhota, Itapema, Luiz Alves, Penha e Porto Belo. Juntas, essas onze cidades possuem um PIB de R$ 73,29 bilhões e representam 17,1% do PIB de Santa Catarina.

A região abriga cerca de 720 mil pessoas, sendo 264 mil em Itajaí e 86,4 mil em Navegantes, mas o número de habitantes na alta temporada de verão chega a quase 1,4 milhão. “Esse projeto é uma verdadeira ponte de safena para uma região que tem potencial de desenvolvimento muito grande e que está se restringindo a isso por problemas de mobilidade”, salienta Bornhausen.

Segundo ele, o túnel permitirá a ligação entre duas cidades que estão em colapso. “Nós não temos uma travessia, a não ser por balsa, que permita escoar mercadorias entre os dois portos e, principalmente, o trânsito de pessoas. Porém, isso está no meio de um projeto que é muito maior do que simplesmente um túnel”.

PROMOBIS

Também esta prevista a implantação de um sistema de transporte coletivo regional com 70 ônibus elétricos e um programa de mobilidade ativa em Balneário Camboriú. Em abril, o Banco Mundial aprovou um empréstimo de US$ 90 milhões ao consórcio de municípios para dar continuidade ao projeto. A assinatura do contrato está prevista para ocorrer até o mês de março de 2025.

Ainda segundo Demantova, o estudo de viabilidade econômica do projeto apontou que somente os investimentos de US$ 120 milhões do setor público vão gerar um retorno de US$ 290 milhões em crescimento econômico regional em um prazo de 15 anos. Atualmente, a concessão do porto está com a JBS Terminais, que assumiu as atividades em 2023, após a paralisação das atividades ocorrida em 2022.

OUTRO PROJETO IDÊNTICO

Outro projeto submerso está em andamento no litoral paulista, conectando Santos e Guarujá por meio de um túnel de 1,5 km de extensão, 860 metros deles sob a água, a 21 metros de profundidade. A obra é orçada em R$ 5,96 bilhões, oriundos de uma PPP, e tem previsão de conclusão para 2028.

Por Folhapress

Imagens: Divulgação

 

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