Esse é nosso Mundo Velho sem porteira que não quer maias saber de flores

Em um artigo assinado pelo colunista Wesley Bischoff – g1 SP – publicado nesta quarta-feira, traz uma reflexão inquietante a respeito das últimas declarações do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, com citações intervencionistas e sugestões de anexações de outros territórios e países soberanos. A poucos dias de reassumir a presidência, Trump voltou a causar controvérsias ao declarar, em uma entrevista coletiva, que deseja tomar o Canal do Panamá e a Groenlândia. O presidente eleito também afirmou que pretende mudar o nome do Golfo do México e sugeriu a incorporação do Canadá aos EUA. Essas declarações, carregadas de uma retórica autoritária e expansionista, colocam em evidência o caráter intervencionista que sempre marcou a política externa norte-americana.

Embora os Estados Unidos sejam amplamente reconhecidos como o berço da democracia moderna, suas ações ao longo da história frequentemente contradizem esse ideal. Trump, com sua postura direta e desmedida, não inventa um novo modelo de governança, mas expõe as práticas hegemônicas que já fazem parte da política externa norte-americana desde o final da Segunda Guerra Mundial.

De fato, desde 1945, os EUA já intervieram militarmente em mais de 70 países, utilizando de justificativas como ‘combate ao comunismo’, terrorismo ou a promoção da democracia. Entre os episódios mais notórios estão o golpe no Irã em 1953, a invasão do Panamá em 1989, o apoio ao golpe no Chile em 1973 e as guerras no Vietnã, Afeganistão e Iraque. Na América Latina, o histórico de interferências reforça a percepção de que os Estados Unidos utilizam sua força militar e econômica para manipular regimes, muitas vezes derrubando governos democraticamente eleitos.

O governo Trump, com suas declarações sobre o Panamá, Groenlândia e Canadá, apenas retoma um discurso expansionista que, mesmo em tom retórico, reacende preocupações globais sobre os limites do poder norte-americano. Além disso, tais posicionamentos se assemelham às práticas de líderes historicamente autoritários, como Vladimir Putin ou Nicolás Maduro, cujos governos são frequentemente acusados de desafiar as fronteiras da soberania internacional.

No entanto, a verdadeira questão que emerge dessas declarações não se limita a Trump como indivíduo, mas à própria natureza do sistema político dos Estados Unidos. Até que ponto a democracia norte-americana é autêntica ou apenas uma fachada para perpetuar interesses geopolíticos e econômicos?

Trump, com sua retórica inflamada, talvez seja apenas o reflexo mais transparente de uma verdade desconfortável: os Estados Unidos, enquanto professam a liberdade e a democracia, têm operado, historicamente, como uma potência autoritária, garantindo sua supremacia global por meio de interferências militares, políticas e econômicas. Cabe ao mundo observar com cautela as consequências de sua volta ao poder, questionando os limites éticos e legais dessa hegemonia que se reinventa a cada governo.

Nota do Rodapé: O comportamento da diplomacia brasileira e do BRICS em resposta às declarações expansionistas de Donald Trump revela um cenário complexo. O Brasil busca um papel ativo em um mundo multipolar, promovendo a cooperação entre economias emergentes enquanto mantém relações pragmáticas com os EUA. A resposta ideal seria reafirmar compromissos com a soberania e a autodeterminação dos povos. Dependendo do governo, a postura pode variar, com administrações alinhadas aos EUA minimizando tais discursos e outras, como as de Lula ou Dilma Rousseff, adotando uma crítica mais firme. O BRICS, por sua vez, pode usar essas tensões para reforçar sua cooperação, contestar a hegemonia dos EUA e promover alternativas econômicas que diminuam a dependência global do dólar, fortalecendo o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) e a utilização de moedas locais nas transações entre seus membros.

Da Redação

Folha do Estado SC

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