AGRO DOS EUA DIZ QUE O BRASIL VENCERÁ GUERRA COMERCIAL ENTRE TRUMP E XI

A se confirmarem as idéias de Trump, isto seria bom para o Brasil

Exportadores americanos alertam que uma eventual guerra comercial entre Donald Trump e a China pode ter apenas um vencedor: o Brasil. O novo presidente americano assume o governo pela segunda vez no dia 20 de janeiro e, nas últimas semanas, vem anunciando que irá elevar tarifas de importação a diversos países, inclusive contra aliados. Contra a China, ele chega a falar em uma alta de 60% nas barreiras comerciais.

A constatação ocorre depois de Trump ter vencido de maneira avassaladora o voto no setor rural americano, marcado pelo conservadorismo. Nos 444 condados dos EUA que dependem mais de 25% da economia no campo, o republicano somou em média 77% dos votos. Ele só não venceu em onze das 444 regiões. Em 100 desses condados, Trump teve mais de 80% dos votos.

Mas, em um levantamento realizado por algumas das entidades mais poderosas do lobby agrícola americano, os resultados apontam que há um risco real de que uma parcela desses agricultores seja prejudicada. Uma tensão comercial entre americanos e chineses, como promete Trump, ampliaria a compra de Pequim da soja e do milho brasileiro, substituindo o produto americano.

Hoje, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA, a estimativa é de que a atividade exportadora do Brasil chegará a superar 153 milhões de toneladas nesses dois produtos entre 2024 e 2025.

Só em 2024, a China importou quase 69 milhões de toneladas de soja do Brasil e pagou quase US$ 30 bilhões por isso. Em novembro, durante a visita oficial de Xi Jinping ao país, 6 dos 37 acordos firmados entre Brasil e China estavam diretamente ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária para uma maior abertura do mercado chinês para diversos produtos nacionais. O potencial comercial pode chegar a US$ 500 milhões por ano em setores inclusive dominados pelos produtos americanos.

Mas os estudos feitos pela ‘National Corn Growers Association’ e pela ‘American Soybean Association’ apontam que, diante de uma guerra comercial, o Brasil poderia ver um aumento de exportação de até 8,9 milhões de toneladas por ano de milho e soja.

A China continua sendo o maior mercado de exportação para a soja americana. Durante o primeiro governo Trump, o Departamento de Agricultura dos EUA indicou que as vendas americanas para o mercado chinês desabaram em US$ 27 bilhões. Depois de Trump aumentar tarifas para bens chineses, Pequim retaliou, também elevando tarifas para os produtos dos EUA.

Quase uma década depois, os agricultores americanos alertam que a China se preparou para um eventual cenário de uma volta de Trump ao poder. Além de amplos investimentos domésticos, Pequim também vem fortalecendo sua relação comercial com o Brasil.

Em 2023, as exportações agrícolas do Brasil para a China atingiram um recorde de US$ 60,24 bilhões, representando 36,2% do comércio agrícola total do país.

Se a China retaliasse com suas próprias tarifas de 60% sobre os produtos agrícolas dos EUA, isso resultaria em uma perda para os americanos de 25 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e 90% das exportações de milho.

– Conclusão: Uma abordagem baseada em tarifas repetidas acelera a conversão de terras agrícolas na América do Sul, o que tem ramificações permanentes nas exportações de soja e milho em todo o mundo – dizem as associações. “E os produtores de soja e milho dos EUA arcam com o ônus”. Os dois produtos são centrais na exportação agrícola dos EUA. Juntos, eles representam 25% de toda a venda ao exterior do campo americano.

O QUE DIZ O ESTUDO?

De acordo com as entidades, os fazendeiros americanos “trabalharam por mais de 40 anos para estabelecer e nutrir uma relação comercial forte com a China”. Agora, veem a ameaça de ter de pagar parte do preço das políticas de Trump, enquanto os chineses desenvolvem cadeias alternativas de abastecimento.

Se Pequim colocar cotas ou subir tarifas para a soja e milho americano como retaliação ao que promete o presidente eleito, esses seriam os resultados, segundo os estudos:

As exportações de soja dos EUA para a China caem entre 14 e 16 milhões de toneladas métricas por ano, uma queda média de 51,8% em relação aos níveis esperados para esses anos.

As exportações de milho dos EUA para a China caem cerca de 2,2 milhões de toneladas métricas por ano, uma queda média de 84,3% em relação à expectativa.

Embora seja possível desviar as exportações para outras nações, não há demanda suficiente do resto do mundo para compensar a grande perda de exportações de soja para a China.

Ao mesmo tempo, o Brasil e a Argentina ganham participação no mercado global com o aumento das exportações. Os EUA perdem um total combinado de 2,3 a 3,7 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e milho por ano, enquanto o Brasil ganha uma média de 4,6 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e milho por ano.

As tarifas chinesas sobre soja e milho dos EUA, mas não do Brasil, incentivam os agricultores brasileiros a expandir a área de produção ainda mais rapidamente do que o crescimento da linha de base. A expansão é ampliada porque algumas áreas de terra no Brasil podem ser usadas para o cultivo de soja e milho no mesmo ano. A terra transformada em área de produção no Brasil permanecerá em produção. O impacto sobre os produtores de soja e milho dos EUA não se limita a um choque de preços de curto prazo: trata-se de uma ramificação duradoura que altera a estrutura de fornecimento global.

Segundo os estudos, esses são os resultados se a China adotasse uma política de reciprocidade. Ou seja, aplicando uma tarifa de 60% contra produtos americanos: Um nível de tarifa retaliatória de 60% intensifica o choque, resultando em uma perda de mais de 25 milhões de toneladas métricas de exportações de soja e quase 90% das exportações de milho para a China.

Nessa situação, os EUA perdem um total combinado de 2,9 a 4,6 milhões de toneladas métricas de exportações anuais de soja e milho, enquanto o Brasil ganha uma média de 8,9 milhões de toneladas métricas de exportações anuais de soja e milho.

A contribuição combinada da soja e do milho para a produção econômica total cairia entre US$ 4,9 bilhões por ano e US$ 7,9 bilhões.

Há um impacto em cascata em todos os EUA, especialmente nas economias rurais onde os agricultores vivem, compram insumos, utilizam serviços agrícolas e pessoais e compram bens domésticos. Entre os setores mais afetados pelos cenários da soja e do milho estão a manufatura e a mineração de produtos de proteção de cultivos, fertilizantes e produtos energéticos, além de imóveis e transporte.

CONSEQUÊNCIAS PERMANENTES

Na visão dos americanos, os resultados “confirmam que as tarifas chinesas podem ter um efeito prejudicial com consequências permanentes que vão muito além de uma queda de preço de curto prazo”. Um dos aspectos ainda seria a “implicação permanente da perda da reputação dos Estados Unidos com os parceiros comerciais, como fica evidente no fato de que a agricultura dos EUA ainda está se recuperando da guerra comercial de 2018”.

– Além disso, esses estudos não medem a transição acelerada de novas áreas de produção na América do Sul, que permanecerão em uso por muito tempo após uma guerra comercial – alertam.

– Uma guerra comercial reacendida reduziria os preços da soja e do milho nos EUA e a área de produção combinada das duas culturas. Se isso ocorresse, uma guerra comercial não apenas reduziria o valor da produção para os agricultores americanos, mas também teria um efeito cascata em toda a economia dos EUA – insistem.

– Enquanto isso, os agricultores da Argentina e do Brasil veriam os preços da soja e do milho mais altos e estariam preparados para expandir mais rapidamente suas áreas de produção. As economias desses dois países se beneficiariam do aumento do valor da produção. Em resumo, a América do Sul ganharia em todas as frentes, à custa dos agricultores e da economia dos EUA – completam os agricultores americanos.

Por Jamil Chade – Colunista do Uol em Genebra

 

 

 

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