Espaço do Leitor | Canela: uma (quase) octagenária ao olhar forasteiro

            Canela e eu temos um jogo de aproximação que vem desde os anos 1970, por coberturas jornalísticas às quais fui atribuído como repórter dos grupos Caldas Junior e RBS. Nelas se inclui a Festa Nacional do Disco, de memoráveis lembranças. Posteriormente, perambulei por seus campos, reportando para os jornais do Grupo O Estado de S. Paulo as transições de sua economia, do extrativismo para o turismo; e assessorando o Sistema FIERGS nos seus anuais congressos sobre a justiça do trabalho. Na passagem dos anos 1990 aos 2000, passei a usufruir de seus encantos como turista regular, e em 2011 adquiri o imóvel que, ainda sob a mesma condição, passou a abrigar minha família nos feriados e fins de semana.

            Dessa relação, amadurecida ao longo do tempo, surgiu a ideia de tornar Canela residência definitiva a partir da aposentadoria. E aqui estamos, desde 2022, não mais como visitantes esporádicos ou mesmo regulares, mas, sim, como moradores, cientes de que, à legítima busca por mais qualidade de vida corresponde em igual nível responsabilidades que vão além de se manter quites com os tributos municipais. Estar canelense significa inserir-se em sua rotina, conviver socialmente com suas comunidades, entender o modo de vida local e, muito especialmente, conhecer a História do município e as histórias de seu povo.

            Recorremos a alguns componentes da sua vida contemporânea, desde nossa chegada definitiva à cidade: o campus Hortênsias da Universidade de Caxias do Sul, com seus cursos de curta duração, em especial os destinados à senioridade; a vizinhança do bairro em que nos instalamos, de admirável receptividade; iniciativas culturais, valendo lamentar, e muito, a extinção da Fundação Canelense de Cultura; as iniciativas artísticos-literárias, dentre as quais as do Gazebo e da representação local da Oficina Santa Sede; os encontros lúdico-ecológicos, no Parque do Palácio, no Parque do Lago e no amplo território do centenário Grande Hotel; e os lançamentos literários na Livraria Bambu e no Empório.

            Um presente que obtivemos nesse esforço de inserção merece destaque, por contínuo e permanente: o Memorial Canela, de preservação da memória e da cultura da cidade. Que outra oportunidade teríamos de absorver o conhecimento de notórios saberes como os de Paulo Dreschler, Antônio Olmiro dos Reis, Pedro Oliveira, Marcelo Weeck, Marco Aurélio Alves, Vitor Hugo Travi, Eno Weber, Marcelo Matte da Silva, Márcio Cavalli, Ana Glenda Viezzer – dentre tantos – senão num evento dessa importância?

O 1º Encontro da Memória de Canela, que o Memorial realizou de 5 a 7 de junho de 2024, por sua vez, foi um presente dentro do presente, por reunir de uma só vez e num mesmo espaço físico e temporal um verdadeiro curso intensivo sobre Canela, essencial a canelenses por adoção, como me atrevo a nos intitular. Igualmente importantes têm sido os “Encontros com a Memória”, que o Memorial realiza semanalmente, tão bem conduzidos e mediados por Eduardo Port, sempre abordando temas de profundo vínculo local e atraindo assistentes bastante interessados e participativos.

 Assim é que, sob esse olhar de forasteiro que se pretende enraizar, observo Canela, de longa data. A um mês de seu 80º aniversário de emancipação (estranha e aparentemente sem programação comemorativa), continuo querendo saber mais.  

Luiz Antônio Nikão Duarte, jornalista, professor

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