Bancário, vendedor e motorista de ônibus são as profissões com maior número de casos de transtornos mentais em Juiz de Fora


Entre 2011 e junho de 2024, quase 1.000 notificações ligadas ao trabalho foram registradas na cidade. Veja o ranking com as 10 profissões com mais registros. Porcentagem de brasileiros que se preocupam com saúde mental saltou de 18% para 49%
Getty Images via BBC
Entre 2011 e junho de 2024, quase 1.000 notificações de transtornos mentais ligadas ao trabalho foram registradas em Juiz de Fora, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde. No ranking, os bancários, vendedores do comércio varejista e motoristas de ônibus urbano aparecem no topo das profissões com mais registros.
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Além disso, os dados indicam que as mulheres com idades entre 30 e 39 anos são as mais diagnosticadas, representando 57,82% dos casos.
No que se refere à escolaridade, aqueles com ensino superior completo contabilizaram 360 do total de notificações, seguidos daqueles com ensino médio, com 282 registros.
Veja as ocupações com maior número de casos
Motorista de ônibus é uma das profissionais com mais transtornos mentais, foto de arquivo
Reprodução/TV Integração
Entre 2011 e junho de 2024, Juiz de Fora teve 976 notificações de transtornos mentais diagnosticados. Deste total, os trabalhadores com carteira assinada foram os mais afetados e representam 850 registros.
Depois, os servidores públicos estaduais e celetistas ocupam a segunda e terceira posição, com 56 e 24 casos, respectivamente.
Segundo a professora do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, com atuação em psicologia organizacional e do trabalho, Edelvais Keller, para explicar o cenário é preciso estudar cada categoria para entender as condições de trabalho e realizar um levantamento da realidade de cada uma delas.
No caso dos bancários, vendedores do comércio varejista e motoristas de ônibus urbano, a professora explica que nas três profissões os trabalhadores têm muitos problemas no dia a dia, como ameaça de desemprego e cumprimento de metas e horários que nem sempre são humanos.
Adoecimento mental no trabalho
Insegurança, cumprimento de metas inalcançáveis e relacionamento abusivo no ambiente corporativo são alguns dos fatores que contribuem para o adoecimento mental dos trabalhadores.
“Muitas vezes os empregadores não aceitam que o adoecimento mental venha do trabalho e culpam o próprio trabalhador como se ele fosse o único culpado de estar neste processo, o que é muito injusto porque as condições de trabalho, as relações interpessoais e o preparo dos gestores não entram em pauta, como se não existisse”, disse a professora.
Edelvais alerta, ainda, que o adoecimento mental é um processo longo, de muito sofrimento psíquico e que deteriora a autoestima da pessoa, interferindo na produtividade.
“A produtividade é o que todas as empresas querem, mas não dão condições de trabalho, relacionamento entre gestores e subordinados saudáveis e respeitosos e os coletivos estão sendo cada vez mais destruídos. Se o trabalhador tem com quem contar, se ele tem apoio da organização, dos colegas de trabalho fica muito mais fácil, mas se ele não tem suporte e ainda é culpabilizado, vai piorar”, completou.
O que ocorre se a saúde mental não for tratada?
A soma desses problemas causam pressão nos trabalhadores e é possível que a partir disso, a pessoa desenvolva transtornos mentais dentro do ambiente de trabalho como: depressão, ansiedade, burnout, dentre outras doenças.
Vale lembrar que a síndrome de burnout foi reconhecida como doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde no final de 2019. A partir de 2023, passou a ter um código no CID-11 específico.
“Se a saúde mental não é tratada, há o agravamento psíquico e a pessoa pode ter surtos, pode ter um desgaste muito grande e não conseguir mais lidar com os problemas, não encontrar mais soluções. E o pior mesmo é a depressão, que se não for tratada pode levar ao suicídio. Pessoas que estão em burnout também podem chegar ao suicídio. Pessoas que sofrem assédio moral no trabalho também podem chegar ao suicídio, infelizmente”, alertou a psicóloga.
Ainda conforme a especialista, todo problema de saúde mental precisa de tratamento psicológico e psiquiátrico, sendo que muitas vezes há necessidade do uso substâncias psicoativas que vão trazer uma sensação melhor de bem-estar ao longo do tempo.
“O tratamento é longo, às vezes leva anos, às vezes se torna crônico, mas é necessário e precisa ser incentivado porque, às vezes, as pessoas têm vergonha de falar que estão com problemas mentais. Existe um preconceito com relação a doenças mentais na nossa cultura”.
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O que fazer?
De acordo com Edelvais, o apoio familiar, compreensão dos gestores, colegas do trabalho e da própria organização são importantes.
A especialista também cita:
Contratação de psicólogos do trabalho;
Criação de programas de prevenção às doenças metais e promoção da saúde mental;
Fazer uma análise psicossocial entre chefes e subordinados, entre colegas e entre os consumidores daquela organização;
Implantação de políticas públicas tanto de prevenção como de tratamento e acolhimento para trabalhadores mentalmente adoecidos;
Melhoria, ampliação e fortalecimento de serviços públicos de apoio a saúde dos trabalhadores, proporcionando mais acesso a cuidados em relação à saúde mental das pessoas que trabalham;
Ampliação de psicólogos e psiquiatras no SUS, nas UBs, UPAs, nos Programas de Saúde da Família, nos CAPs, nos CERESTs.
“Saúde mental é o respeito à vida, porque sem saúde mental a pessoa não faz nada, a pessoa não quer viver e isso é muito triste”, finalizou.
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