Dólar bate novo recorde e termina a semana cotado em R$ 6


Ao longo de uma sexta-feira em que surgiam números positivos sobre o nível de emprego e até mesmo sobre as contas públicas, a taxa de câmbio refletia a reação de desconfiança dos agentes econômicos ao pacote. Dólar renova máxima histórica e fecha a R$ 6
Reprodução/TV Globo
No dia seguinte ao anúncio de medidas para o controle de gastos do governo, a moeda brasileira quebrou uma barreira histórica. Nunca antes foi preciso juntar R$6 para comprar um dólar.
Ao longo de uma sexta-feira em que surgiam números positivos sobre o nível de emprego e até mesmo sobre as contas públicas, a taxa de câmbio refletia a reação de desconfiança dos agentes econômicos ao pacote.
O sol ainda nem tinha nascido nos mercados quando a economia brasileira acordava para um longo dia. O despertador tocou às 8h30 com o anúncio do Banco Central.
O resultado das contas da União, dos estados, dos municípios e das estatais rendeu um superávit de R$ 36,9 bilhões — o melhor saldo para o mês de outubro desde 2016.
Meia hora depois, a notícia veio do mercado de trabalho. A taxa de desemprego medida pelo IBGE é a menor da história: 6,2%. E também às 21h, o sino da abertura tocou nas rodas de câmbio.
Lá, mal se ouviram as boas notícias da manhã com todo o ruído gerado pelo pacote de ajuste fiscal anunciado na quarta-feira (27). Com 1h15 de pregão, a cotação do dólar já chegava ao maior valor da história: R$6,11.
“Teve uma frustração muito grande com o plano que foi apresentado pelo governo e por conta disso o mercado está com muita incerteza e insegurança em relação ao que o governo de fato vai conseguir entregar nos próximos dois anos”, afirma Sérgio Vale, economista-chefe MB Associados.
Mas aí, às 11h25, circulava nas rodas de negócios uma mensagem da rede social. Era do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira:
“Toda medida de corte de gastos que se faça necessária para o ajuste das contas públicas contará com todo esforço, celeridade e boa vontade da Câmara, que está disposta a contribuir e aprimorar.”
Com um “mas”:
“Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa e, sobretudo, realista de suas fontes de financiamento e efetivo impacto nas contas públicas.”
E rodavam ainda as palavras do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco:
“É importante que o Congresso apoie as medidas de controle, governança, conformidade e corte de gastos, ainda que não sejam muito simpáticas.”
E:
“Isenção de imposto de renda, embora seja um desejo de todos, não é pauta para agora e só poderá acontecer se, e somente se, tivermos condições fiscais para isso. Se não tivermos, não vai acontecer.”
O dólar respondeu com uma trégua. E o ministro da Fazenda sentou para almoçar. Entre todos os convidados do evento anual da Federação dos Bancos. E antes mesmo de servirem a entrada, Fernando Haddad se manifestou sobre a avaliação de que os investidores não estavam satisfeitos, de que o plano de corte de gastos parece pouco.
“Nós não vamos conseguir fazer tudo que precisa ser feito com uma bala de prata. Esse conjunto de medidas não é o ‘grand finale’ do que nós precisamos fazer. Daqui três meses pode ser que eu esteja de novo na planilha discutindo a evolução da Previdência, a evolução do BPC. ‘Olha, não tá funcionando, nós precisamos melhorar isso aqui, os controles.’ Pode ser que eu tenha que mandar lei pro Congresso”, diz Fernando Haddad.
Eram 17h em ponto no relógio dos operadores quando o dólar marcou nova máxima de fechamento: R$ 6. No mês, alta de quase 4%. No ano, 23%.
O principal índice da bolsa brasileira nesta sexta-feira (29) subiu, mas teve o pior mês de novembro em sete anos.
É o resultado de uma conta que ainda não fechou: o saldo positivo que o governo espera nos cortes anunciados menos a incerteza sobre a eficiência das medidas no mercado financeiro. Deve levar bem mais que um ou dois dias para que todos os atores da economia calculem os impactos do pacote.
Mas… se existe um consenso: é a necessidade de um equilíbrio fiscal. O ministro aposta que o tempo corre a favor.
“Com esclarecimento isso vai ancorando, é assim mesmo. O Congresso tá muito sintonizado com as necessidades do país”, afirma o ministro da Fazenda.
Tempo é bom, mas não cura tudo, diz o economista do mercado.
“O que vai curar o déficit fiscal são medidas duras, impopulares e que atuem nas questões principais. Então, provavelmente nos próximos anos nós deveremos enfrentar novamente uma discussão a respeito da Previdência Social. Nós precisamos encaminhar uma solução para vinculação de determinadas despesas do nosso orçamento, por exemplo como despesas, por exemplo, como despesas com saúde e educação, as receitas, para que o orçamento tenha mais espaço de manobra para gastos com investimentos e gastos discricionários. Esse conjunto de medidas é que vai curar o problema fiscal, o tempo por si não vai fazer isso”, pontua Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos.
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