Ouça os áudios que a PF interpreta como tentativa de golpe

A PF (Polícia Federal) anexou em seu relatório áudios de troca de mensagens entre militares e pessoas ligadas ao governo de Jair Bolsonaro (PL). A investigação apura uma suposta tentativa de golpe de Estado em 2022 para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além do assassinato do petista, do seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Entre mensagens, os investigados falam sobre a possibilidade de uma guerra civil, xingam a Constituição Brasileira e relatam que os militares estão divididos quanto à execução do plano. Os áudios também citam que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) supostamente teria participação ativa no esquema.

Áudios obtidos pela PF (Polícia Federal) indicam que os militares estariam divididos sobre aderir aos planos para um eventual golpe de Estado depois das eleições presidenciais vencidas por Lula em 2022.

Ouça a íntegra dos áudios:

Mario Fernandes pede a Cid para conversar com Bolsonaro sobre “segurar” ações da PF:

Mensagens de voz do general Mário Fernandes, ex-secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência, mostram que o militar pediu ao então ajudante de ordens Mauro Cid que Bolsonaro conversasse com o Ministério da Justiça sobre a possibilidade de “segurar” as ações da PF no acampamento montado em frente ao QG do Exército.

“Os caras não podem agir, a área é militar, mas, porra, já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então, pô, seria importante, se o presidente pudesse dar um ‘input’ ali pro Ministério da Justiça, pra segurar a PF, né? Ou, porra, pra Defesa alertar o CMP. E, porra, não deixa. Os caminhões estão dentro de área militar”, afirmou.

Ouça o áudio (1min02):

Mario Fernandes, general da reserva, fala diz que boa parte do Alto Comando do Exército “não está muito disposto”:

Segundo a investigação, os acampamentos em frente ao QG do Exército, no fim de 2022, faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares e que o general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com esses grupos.

“Talvez seja isso que o Alto Comando, que a Defesa quer: o clamor popular, como foi em 64″, disse. “Boa parte do Alto Comando, pelo menos do Exército, não está muito disposto”, acrescentou.

Ouça o áudio (1min20):

Para PF, áudio do general Mario Fernandes defende golpe antes da diplomação de Lula:

Em um outro áudio, o general Mário Fernandes disse que iria conversar com o então presidente Jair Bolsonaro para decidir sobre quando atuariam. Afirma que a ação deveria ser antes do dia 12 de dezembro de 2022, antes da diplomação da chapa Lula e Alckmin, no TSE.

“Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes, né? Ele espera, espera, espera. Para ver até aonde vai, né? Ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo está curto, né? Não dá para esperar muito mais passar. Dia 12 seria… Teria que ser antes do dia 12. Mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões… Pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo. É área militar, ninguém vai se meter. Até porque a manifestação é pacífica, ninguém está fazendo nada ali.”

No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília.

Ouça o áudio (1min8s)

“Guerra civil agora ou guerra civil depois”, diz o coronel Roberto Criscuoli:

Em uma das conversas, o general da reserva Roberto Criscuoli fala ao general da reserva Mário Fernandes sobre a possibilidade de uma “guerra civil”.

“Se nós não tomarmos a rédea agora, depois eu acho que vai ser pior. Na realidade vai ser guerra civil agora ou guerra civil depois. Só que a guerra civil agora tem um significativo, o povo tá na rua, nós temos aquele apoio maciço. Daqui a pouco nós vamos entrar numa guerra civil, porque daqui a alguns meses esse cara vai destruir o Exército, vai destruir tudo”, disse.

Ouça o áudio (51s):

“Quatro linhas da Constituição é o caralho”, diz coronel:

Em uma dessas conversas, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu, à época assessor do então presidente Jair Bolsonaro (PL) disse ao general Mário Fernandes que haveria necessidade da movimentação antidemocrática “porque o país estava em guerra“. 

“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o caralho. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou.

Ouça áudio (43s):

A OPERAÇÃO DA PF

A PF (Polícia Federal) realizou em 19 de novembro uma operação que mirou suspeitos de integrarem uma organização criminosa responsável por planejar, segundo as apurações, um golpe de Estado para impedir a posse do governo eleito nas eleições de 2022. O inquérito sobre a organização foi levantado pelo ministro Alexandre de Moraes nesta 3ª feira (26.nov). Leia aqui.

Em 21 de novembro, os agentes indiciaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro da Defesa, general Braga Netto, o ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e outras 34 pessoas por envolvimento pela suposta tentativa de golpe de Estado.

Segundo a corporação, o indiciamento reflete a existência de elementos suficientes para indicar a participação de Bolsonaro, Braga Netto e Cid em uma trama para impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) naquele ano.

Os agentes miram os chamados “kids pretos”, grupo formado por militares das Forças Especiais, e investigam um plano de execução do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB).

Ainda conforme a corporação, o grupo também planejava a prisão e execução do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Os crimes investigados, segundo a PF, configuram, em tese, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa.

Foram expedidos 5 mandados de prisão preventiva e 3 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, em Goiás, no Amazonas e no Distrito Federal. Foram determinadas 15 medidas, como a proibição de contato entre os investigados, a entrega de passaportes em 24 horas e a suspensão do exercício de funções públicas.

Um dos alvos da operação Contragolpe, como está sendo chamada, é o general da reserva Mário Fernandes. Ele era secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência no governo de Bolsonaro. Ele também foi assessor no gabinete do deputado e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (PL-RJ).

Também foram alvos dos mandados os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, e o policial federal Wladmir Matos Soares. Todos tiveram determinadas prisão preventiva e proibição de manter contato com outros investigados, bem como proibição de se ausentarem do país, com a consequente entrega dos respectivos passaportes.

Em nota, a PF disse que uma organização criminosa “se utilizou de elevado nível de conhecimento técnico-militar para planejar, coordenar e executar ações ilícitas nos meses de novembro e dezembro de 2022”.

O plano estava sendo chamado de “Punhal Verde e Amarelo” e seria executado em 15 de dezembro de 2022.


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