CEO do Carrefour faz carta de retratação a produtores brasileiros

O CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, escreveu carta com uma retratação sobre às críticas feitas à carne brasileira. A medida se dá depois do anúncio de que a marca francesa deixaria de comprar proteínas animais produzidas no Mercosul.

Segundo o portal NeoFeed, que teve acesso à carta (leia a íntegra no fim deste texto), o documento foi entregue pelo embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, e para assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Na 4ª feira (20.nov.2024), Bompard disse que não iria mais comprar proteínas do Brasil porque os produtos não atendem as exigências e as normas de qualidade exigidas pelo governo francês. A decisão afeta exclusivamente a rede de mercados na França. Outros estabelecimentos da marca não vão parar de vender a carne sul-americana.

O boicote da rede de supermercados foi comunicado depois de pressão de agricultores franceses contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O pacto criaria um fluxo de comércio de até R$ 274 milhões em produtos manufaturados agrícolas, além de um mercado comum de 780 milhões de pessoas.

Em retaliação, frigoríficos como a Marfrig e a JBS, responsável por 80% do fornecimento de carnes do Carrefour Brasil, suspenderam o abastecimento para mercados da rede no Brasil. Masterboi e Minerva também aderiram ao boicote.

Na carta, Bompard pede desculpas se “a comunicação do Carrefour França” causou “confusão” e foi “interpretada como questionamento” da parceria da marca “com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela”.

Ele, no entanto, não diz que a rede voltará atrás em sua decisão. Ele afirmou que o Carrefour França “é o 1º parceiro da agricultura francesa” e que a rede compra “quase toda a carne” que necessita de produtores do país –o que seguirá fazendo. 

A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais” declarou.

A retratação de Bompard já era esperada pelo governo federal. Na 2ª feira (25.nov), Fávaro confirmou que a embaixada francesa no Brasil estava fazendo a intermediação. 

O embaixador francês se ofereceu, falando com o nosso secretário de relações internacionais, Luis Lua, para ser um intermediador de uma proposta para apaziguar este assunto. Estão intermediando com o grupo francês Carrefour uma fala de retratação por parte da companhia”, disse à TV Globo.

Durante a entrevista, o ministro declarou que o atrito não se trata de um assunto governamental. Afirmou que o Brasil e a França “têm uma boa relação diplomática” e que o desconforto se deu por causa da decisão “desrespeitosa” do CEO do Carrefour.

Leia a íntegra da carta publicada pelo NeoFeed: 

“Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil,
Senhor Carlos Fávaro,

“A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como diretor-presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.

“O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.

“Na França, o Carrefour é o 1º parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.

“Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.

“O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130 mil colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.

“Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.

“O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, senhor ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.

“Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.

“Atenciosamente,

“Alexandre Bompard
“Diretor-presidente do Grupo Carrefour”

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