1984-1985: A independência de Amin e a construção do PFL de Jorge

Reunião da Executiva do PFL em 1987. Da esquerda para a direita, Aureliano Chaves, Jorge Bornhausen, ACM, Marco Maciel e Carlos Chiarelli. Foto do livro “O PFL” de Eliane Catanhêde, editado por PubliFolha.

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Na coluna precedente rememorei a gênese do PFL, resultado de uma dissidência do PDS encabeçada por Jorge Bornhausen (SC), José Sarney (MA), Aureliano Chaves (MG), Marco Maciel (PE)l, Antônio Carlos Magalhães (BA), Guilherme Palmeira (AL), José Agripino (RN) e Roberto Magalhães (PE), todos importantes líderes nacionais do PDS. Inconformados com a possibilidade de Paulo Maluf se tornar Presidente da República, decidiram dar seus votos e de seus seguidores ao candidato Tancredo Neves do PMDB que, graças a esse apoio, se elegeu Presidente com Sarney de Vice.

Na raiz e nas consequências desses acontecimentos, nasceu o PFL, o Partido da Frente Liberal. E muito em breve os efeitos dessa fragmentação do PDS, e a consequente redistribuição de muitas das suas principais lideranças – algumas ficando na sigla original, outras indo para o recém-nascido PFL – começaram a cutucar a política de Santa Catarina.

Entre parênteses: a jornada do PSD e da UDN para a Arena, e o retorno

Irineu Bornhausen. Wikipedia
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Aderbal Ramos da Silva. Arquivo Público de SC
Imagem reprodução Revista Veja
Imagem Reprodução Revista Veja

A bipartição do PDS e, (por extensão) da antiga Arena, em PDS e PFL, produziram, de certa forma, uma volta para trás, um regresso aos padrões da política anterior a 1964, tempo em que as principais figuras políticas do Estado estavam divididas em dois blocos: a UDN comandada pelas famílias Konder e Bornhausen, e o PSD da família Ramos, ambos de vocação conservadora.

Em 1965, com o advento das novas regras que reduziram as opções a apenas dois partidos, sendo um deles destinado a dar apoio ao regime militar (a Arena) e outro escalado para fazer oposição (o MDB), praticamente todos os mais expressivos líderes do Estado, tanto udenistas como pessedistas, se acomodaram, ainda que desconfortavelmente, na única opção onde cabiam suas ideias e posições políticas: a Aliança Renovadora Nacional.

No MDB se inscreveram, sem qualquer embaraço, as turmas do PTB, PDT e outros do mesmo gênero, além daqueles que, a contragosto, obedeceram a intimação dos militares para viabilizar numericamente a criação do partido oposicionista, a fim de que o País não caísse na desonra de ter partido único.

O provérbio dos dois tigres

Um conhecido proverbio chinês ensina que “numa mesma montanha não podem conviver dois tigres”. Um equivalente dessa lição é a frase inspirada no velho oeste americano: “a mesma cidade não comporta dois xerifes”.

Do ponto de vista de Esperidião Amin, a montanha política catarinense, de súbito pareceu pequena para seu gosto. Já havia um tigre alfa, chamado Jorge Bornhausen, instalado na mesma cordilheira. Talvez esse incômodo fosse estimulado pelo fato de que sua família, no passado, militara no antigo PSD, a de Jorge Bornhausen na UDN.

Mas, a causa principal da desavença deve ter sido mesmo o sentimento do tigre mais novo de que chegara a hora de liderar, comandar, e não prosseguir na condição de cria conduzida pelo mais antigo. Deve ter tido também um peso considerável na sua análise dos fatos, a autopercepção de que ele havia se tornado um político muito popular devido à sua extraordinária exposição nacional durante as enchentes que assolaram o Estado em 1983 e 1984. A Presidência da República já passara a fazer parte dos seus sonhos.

Embora tivesse ele, à certa altura dos acontecimentos, dito a Jorge que migraria para o PFL, Esperidião ficou no já seu PDS, como chefe único e inconteste e, nessa condição, virou o século e assim continua já por quarenta anos, através dos sucedâneos PPR, PPB e, enfim, PP como hoje se chama.

 Jorge e Amin unidos. (Foto do Arquivo do Estado de SC)
Amin (atrás) ainda batendo palmas (Idem)

A obra partidária de Jorge e Vilson

Wikipedia. Kleinubing (PFL) foi segundo colocado, superando Amilcar Gazaniga (PDS) apoiado por Amin e seu Governo

Jorge ficou com a tarefa, árdua, de edificar o PFL num território em que o lado que vai do centro para a direita estava ocupado, partidariamente, pelo PDS cujo líder era, na ocasião, o Governador do Estado Esperidião Amin. A este bastava manter seu fiel eleitorado. Àquele cabia desbravar, reconquistar antigos udenistas, edificar algo novo em terras pouco férteis.

Quem, afinal, contribuiu esplendidamente nessa jornada, foi Vilson Kleinubing. Ele disputou, com o competente empresário Fernando Marcondes de Mattos de vice, a eleição para Governador de 1986 pelo PFL – que tinha alguma organização apenas em poucos municípios. A campanha de Vilson naquele ano, ainda que não vitoriosa, (mas com a estratégica superação dos votos de Amílcar Gazaniga, candidato de Amin e do Governo), e a consagradora conquista da Prefeitura de Blumenau em 1988, transformou o PFL em um partido viável e competitivo. E a tal ponto chegou que, na eleição de 1990, trouxe Amin e seu PDS para, como candidato ao Senado, compor com Kleinubing a imbatível coligação que poria um pefelista no comando do Estado.

Esperidião costuma dizer que, na política, impera a Lei da Gravidade: o maior sempre atrai o menor. Pois é.

Vilson, não por acaso, provinha de família udenista,

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Na semana que vem vou relembrar os efeitos colaterais que a separação partidária de Jorge e Amin tiveram na minha vida pessoal e profissional – circunstâncias essas que acabaram fazendo parte das origens da eleição de Vilson Kleinubing como Prefeito de Blumenau. De acréscimo vou tirar do baú das lembranças algumas breves e curiosas historietas de que participei ou presenciei de perto.

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