Hiperinflação ficou para trás, mas ainda há aceleração de preços

O Brasil comemora o período mais longevo de democracia da história do país neste sábado (15.mar.2025) com inflação comportada, apesar de ainda impactar a popularidade de governos. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) foi de 5,06% no acumulado de 12 meses até fevereiro deste ano, acima da meta, mas longe dos piores momentos dos últimos 40 anos.

A hiperinflação brasileira foi registrada no início de 1990, quando, por 3 meses, a taxa anualizada superou 6.000%. A inflação mensal foi de 82,5% em março de 1990, no governo Fernando Collor.

Neste sábado, o Brasil celebra 40 anos de democracia ininterrupta. No início da redemocratização, em 15 de março de 1985, a moeda ainda era o cruzeiro. Em 1986, veio a nova divisa, o cruzado. Depois, em 1989, chegou o cruzado novo. Mais adiante, em 1990, o país adotou o cruzeiro. Aí, foi a vez do cruzeiro real em 1993. No ano seguinte, o Plano Real foi criado e estabilizou a moeda –o real, que vigora até hoje. Antes, a inflação alta havia sido herdada dos governos da ditadura militar. Os governos José Sarney (1985 a 1990) e Fernando Collor (1990 a 1992) foram os responsáveis pela execução dos 6 planos econômicos, que se mostraram incapazes de controlar o poder de compra da população. São eles:

  • Plano Cruzado 1 (1986);
  • Plano Cruzado 2 (1986);
  • Plano Bresser (1987);
  • Plano Verão (1989);
  • Plano Collor 1 (1990);
  • Plano Collor 2 (1991).

Em 1994, o então ministro da Fazenda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, montou um grupo de economistas que elaborou o Plano Real. O presidente da República era Itamar Franco. O real permitiu a queda da inflação, que hoje está em nível historicamente baixo.

POPULARIDADE DE PRESIDENTES

Assim como em todos os países, a inflação do Brasil influi diretamente na taxa de popularidade dos presidentes. No atual governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os preços dos alimentos tiveram efeito na avaliação que os brasileiros fazem da administração federal. A aprovação está em baixa, como mostra a pesquisa PoderData.

Lula disse, em fevereiro, que os brasileiros deveriam evitar comprar produtos considerados caros para “controlar os preços”. Virou meme nas redes sociais.

Assista (40s):

O Poder360 já mostrou que a inflação alta atrapalhou também a popularidade de Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

As manifestações de 2013 tinham lema de “não é só pelos R$ 0,20”, em referência ao aumento da passagem de ônibus. O evento foi um marco histórico para a política brasileira. Os atos contra o aumento das passagens cresceram e se tornaram grandes manifestações com diversas pautas ligadas às condições de vida da população –saúde, educação, habitação e transportes.

Sob Bolsonaro, os preços da gasolina se tornaram memes. O presidente tomou medidas para baratear o custo, o que aumentou o impacto nas contas públicas. Lula voltou a aumentar os tributos federais sobre os combustíveis.

METAS DE INFLAÇÃO

O Banco Central estabeleceu o regime de metas de inflação em 1999. A taxa medida pelo IPCA terminou aquele ano em 8,94%. Passados 25 anos, ficou acima da meta em 8 ocasiões, sendo 3 nos últimos 6 anos.

A meta de inflação ficou mais exigente. De 2005 a 2016, era de 4,5%, mas com intervalo de tolerância maior: de 2 pontos percentuais para cima e para baixo. Neste caso, não haveria o descumprimento da meta do BC se ficasse abaixo de 6,5%.

A partir de 2018, a meta de inflação passou a ter uma tolerância menor, de 1,5 ponto percentual. Além disso, o centro da meta foi diminuindo anualmente até atingir os atuais 3%, que limita a taxa a 4,5%.

Em 2024, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, e o ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, votaram para tornar a meta ainda mais desafiadora.

O CMN (Conselho Monetário Nacional) decidiu diminuir o prazo para auferir o cumprimento das metas de inflação. Deixou de ser anual e passou a ser a cada 6 meses. Portanto, se a inflação ficar acima de 4,5% por mais de 6 meses consecutivos, haverá o descumprimento do objetivo inflacionário.

Haddad já disse que a meta de inflação de 3% é muito exigente e “inimaginável” para o histórico do país.

Assista (1min8s):

TAXA DE JUROS

O Banco Central subiu a taxa básica para 13,25% ao ano em janeiro. Sinalizou que vai elevar para 14,25% ao ano na 4ª feira (19.mar). O juro base está há 3 anos acima de 10% e, segundo as projeções dos agentes financeiros, atingirá o patamar de 15% neste ano, o maior nível desde 2006.

A Selic elevada serve para controlar a inflação, que está em 4,56% no acumulado de 12 meses. Está acima da meta de 3% e além do teto (4,5%) permitido. O Banco Central disse que deverá descumprir a meta de inflação em junho.


O Poder360 preparou uma série especial de reportagens sobre os 40 anos de democracia no Brasil. Leia abaixo:

  • Democracia faz 40 anos com resultado medíocre na economia
  • Brasil completa 40 anos de democracia, maior período da história
  • PIB per capita do Brasil tem 8º pior crescimento do G20 desde 1985
  • Hiperinflação ficou para trás, mas ainda há aceleração de preços
  • Expansão rodoviária desacelera nos últimos 40 anos
  • Privatizações avançaram com redemocratização
  • Antes mais rico, Brasil tem 12% do PIB chinês e 56% do indiano
  • Peso da indústria brasileira no PIB cai no pós-redemocratização
  • Indicadores sociais do Brasil avançam com redemocratização

Leia as entrevistas da série especial:

  • José Sarney | “O coração da democracia é a liberdade”
  • André Lara Resende | “Economia em 40 anos foi decepcionante”
  • Henrique Meirelles | “Gastar mais causa insegurança e o país cresce menos“
  • Maílson da Nóbrega | “Falta de investimento público impede crescimento”
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