Associação alauita cita “corpos no mar” e “limpeza étnica” na Síria

Um porta-voz da Federação Alauíta na Europa, identificado apenas como Mert, afirmou que grupos jihadistas ligados ao novo governo da Síria estão promovendo uma “limpeza étnica” contra a minoria alauíta no país. Contou, em entrevista à TV Globo no domingo (9.mar.2025), que corpos estão sendo jogados no mar ou queimados para tentar acobertar as mortes. 

Precisamos de intervenção internacional. Isso é realmente importante, porque está acontecendo uma limpeza étnica. É um genocídio”, disse o porta-voz, que afirmou ter medo de mostrar o rosto.

Grupo étnico-religioso do qual pertence o ex-presidente Bashar al-Assad, os alauítas representam cerca de 10% da população síria. A comunidade tem o núcleo localizado nas províncias costeiras de Latakia e Tartus. Os confrontos eclodiram depois de os alauitas lançarem um ataque às forças de segurança em Jableh, em Latakia. O ataque resultou na maior onda de violência no país desde a queda de Assad em dezembro de 2024.

Foram divulgadas cerca de 1.000 mortes em decorrência dos confrontos, mas Mert afirma que o número é muito maior. O porta-voz alega que jihadistas aliados do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), grupo rebelde responsável por depôr al-Assad do poder, cometem crimes contra a população.

Eles deram armas e a mensagem [aos jihadistas], e eles começaram a campanha nas redes sociais. Em Idlib, temos relatos de que muitos do HTS pediram em microfones jihad [guerra santa] contra os alauítas. Eu não sou responsável por definir o que é genocídio ou não. Mas se a motivação por trás disso são apenas suas crenças e há evidências suficientes disso, então, na minha opinião, é um genocídio”, afirmou Mert.

O porta-voz disse ainda haver relatos de escravidão contra alauítas, inclusive mulheres e crianças, além de casas invadidas e saqueadas. “Eles estão matando todos os homens, porque querem as mulheres e crianças”, disse.

Mert disse temer que o presidente interino da Síria, Ahmad al-Sharaa, não cumprirá com a promessa de proteger as minorias étnicas do país.

Ele não foi eleito. Ele disse que a Síria estará pronta para uma eleição daqui a 4 anos. Isso significa que serão 4 anos de limpeza étnica”, completou.

O gabinete de al-Sharaa declarou que o governo vai formar um comitê independente para investigar as mortes em confrontos entre apoiadores do novo regime e forças leais ao ex-presidente Bashar al-Assad. As informações são da Reuters.

Anunciamos a formação de uma comissão de apuração de fatos sobre os acontecimentos na costa e formamos uma comissão superior”, disse al-Sharaa.

O presidente interino do país não informou quem fará parte do comitê independente que vai verificar os fatos sobre os confrontos na região onde a população alauita se concentra.

Estados Unidos e Rússia pediram ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) uma reunião para discutir a escalada da violência na Síria nesta 2ª feira (10.mar.2025).

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