Como Vilson Kleinubing se tornou prefeito de Blumenau (VI)

A reunião com os empresários e os recursos da campanha

Era preciso definir de onde sairia o dinheiro necessário para a campanha eleitoral. Na época não havia a facilidade do Fundo Eleitoral que, nos tempos atuais, garante suporte aos partidos e candidatos. Já sabíamos, claro, que barata a jornada não haveria de ser. A tarefa financeira começou, então, reunindo o pessoal de marketing com gente que entendia de contabilidade e assuntos numerários. 

De um encontro seguinte dessa pessoal com nosso comitê coordenador, foi gerado um esboço de orçamento. A seguir, Ulrich Kuhn, eu, e alguns outros que tinham ligação com as principais empresas de Blumenau, organizamos uma reunião de Kleinubing, assessorado por nós, com os principais dirigentes de algumas das maiores indústrias do município, especialmente da área têxtil.  

O encontro foi sediado pelo chefe de uma dessas empresas, em sua residência. Lá, após conversa descontraída entre o grupo de empresários e o candidato, um deles pediu que fossem apresentadas as necessidades da campanha: quanto seria necessário para pôr Kleinubing em condições de disputar, com chances, a Prefeitura de Blumenau. 

Apresentamos então o que seria o conjunto ideal de instrumentos de trabalho e de divulgação: pessoal, marketing, propaganda de todos os tipos, pesquisas, composição de músicas, mobilização de rua, etc. Tudo aquilo somava, evidentemente, um valor alto. Mas, talvez, ainda menor do que outras campanhas daquela eleição porque não pretendíamos realizar showmícios ou eventoscom alguma grande atração. Nessa área tínhamos preferência pela multiplicação de comícios menores, quase sem custo, nos bairros. 

Terminada a apresentação, um dos empresários perguntou: vocês garantem que isso é suficiente, que não faltará dinheiro? Sim, disse eu, o orçamento apresentado cobre todas as despesas que teremos até o dia da vitória. Então o pessoal das empresas trocou olhares e um deles disse: “se é assim, está aprovado”. 

A contrapartida que foi cobrada do candidato

Vilson Kleinubing, já então aliviado por terem tirado dos seus ombros o ônus de catar recursos para a campanha, agradeceu e fez uma perguntam: “O que vocês, neste caso, vão querer de mim se for eleito?” E outro dos patriarcas respondeu com a aquiescência de todos: “Queremos apenas uma coisa: que você seja um bom Prefeito, trabalhe bastante por Blumenau”. 

“Nada mais?”, indagou Vilson. E ouviu a seguinte resposta: “Sim, mas, acrescido de uma exigência: sua campanha não pode receber recursos de nenhuma outra fonte”. “Nós não vamos querer coisa alguma da Prefeitura, e você não pode ficar devendo favor a outras pessoas ou empresas, porque muitas haverão de cobrar facilidades que você não pode atender”. “Queremos que você tenha as mãos livres para fazer sempre o que é melhor e mais adequado para o município”. 

A longa fila dos pretensos doadores

E assim foi feito. Quando a candidatura começou a crescer, e já se sentia, na cidade, a impressão da vitória de Kleinubing, hipotéticos contribuintes passaram a fazer fila na porta do comitê: empresas de ônibus, empreiteiros de obras, loteadores, prestadores de serviço de toda natureza, e até bicheiros. Lá compareceu uma infinidade de gente que dependia muito dos negócios e do relacionamento com o Poder Público, e que não teria qualquer cerimônia em cobrar, mais tarde, as contrapartidas a um eventual investimento político. 

A todos se agradeceu o interesse e foi dada a informação de que a candidatura de Vilson Kleinubing já tinha os recursos necessários e, consequentemente, encerrara o recebimento de doações. Um caso certamente raro na história política brasileira. 

Próximo capítulo.:

Kleinubing nos palanques. Um novo jeito de se comunicar com o público.

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