EUA planejam fechar consulados, incluindo o do Brasil

O Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou, em março de 2025, um plano para fechar mais de dez consulados ao redor do mundo, incluindo uma representação no Brasil, especificamente o escritório da embaixada americana em Belo Horizonte, além de considerar a redução de outras missões diplomáticas. A decisão, confirmada por fontes do governo americano, foi notificada a comitês do Congresso no último mês e abrange também cidades na Europa, como Rennes, Lyon, Estrasburgo e Bordeaux, na França; Dusseldorf, Leipzig e Hamburgo, na Alemanha; Florença, na Itália; e Ponta Delgada, em Portugal.

Além dos fechamentos, o plano inclui demissões de funcionários locais, que compõem cerca de dois terços da força de trabalho do órgão, e a redução de pelo menos 10% no número de funcionários americanos e locais em missões globais. A medida, liderada pelo governo do presidente Donald Trump, faz parte de uma política de cortes orçamentários e está alinhada à agenda “America First”, que busca reduzir a presença diplomática americana no exterior. O objetivo é reestruturar a política externa, priorizando interesses internos, mas a decisão tem gerado preocupações sobre os impactos na capacidade de coleta de inteligência, na construção de parcerias internacionais e na segurança nacional dos EUA.

Para contextualizar essa decisão, é importante entender o cenário mais amplo da política externa americana e os desafios enfrentados pelo Departamento de Estado. Atualmente, os EUA mantêm mais de 270 missões diplomáticas em todo o mundo, com uma força de trabalho total de cerca de 70 mil pessoas, sendo 45 mil funcionários locais, 13 mil membros do serviço estrangeiro e 11 mil funcionários do serviço público. Essas missões desempenham papéis cruciais, como a emissão de vistos, a assistência a cidadãos americanos no exterior e a coleta de informações estratégicas, além de abrigar oficiais de diversas agências federais, incluindo Exército, inteligência, saúde e comércio. No entanto, desde o início de 2025, o Departamento de Estado enfrenta uma crise interna, com cerca de 700 demissões voluntárias, incluindo 450 diplomatas de carreira, em apenas dois meses, superando a taxa de saídas de todo o ano anterior. 

Esse êxodo é agravado por um congelamento de contratações, que reduz ainda mais a capacidade operacional. Além disso, a medida reflete uma mudança estratégica sob a liderança de Trump, que, durante sua campanha, prometeu “limpar o Estado profundo” e reformular o serviço exterior para alinhá-lo à sua agenda. Em fevereiro de 2025, o secretário de Estado, Marco Rubio, enviou um memorando aos chefes de missão, instruindo-os a manter as equipes no exterior no “mínimo necessário” para implementar as prioridades de política externa do presidente, o que inclui cortes significativos no orçamento operacional, estimados em até 20%.

Os desdobramentos dessas medidas têm gerado amplas preocupações, especialmente no que diz respeito à segurança nacional e à influência global dos EUA. Um dos impactos mais significativos é a redução da capacidade de coleta de inteligência, já que a CIA, por exemplo, depende de consulados e embaixadas para posicionar seus agentes, muitos dos quais operam disfarçados como diplomatas. O fechamento de postos diplomáticos, como o de Belo Horizonte, pode limitar as opções de posicionamento desses espiões, comprometendo a capacidade de monitoramento em regiões estratégicas. Além disso, os consulados desempenham um papel essencial na emissão de vistos e na assistência a cidadãos americanos, serviços que podem ser sobrecarregados em outras representações, como as de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, no caso do Brasil. Outro ponto crítico é o impacto sobre os funcionários locais, que, em muitos países, formam a base do conhecimento dos diplomatas americanos sobre o ambiente local, e cuja demissão pode levar à perda de expertise valiosa.

No cenário global, analistas alertam que esses cortes podem enfraquecer a liderança americana, especialmente em um momento em que a China, principal rival geopolítico dos EUA, ultrapassou o país em número de postos diplomáticos, com 274 contra 271, fortalecendo sua influência em regiões como Ásia e África. Críticos da medida, incluindo a oposição democrata, argumentam que o desmantelamento da presença diplomática americana, juntamente com cortes na Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID), pode criar um vácuo perigoso, permitindo que adversários como China e Rússia ampliem sua influência em áreas estratégicas.

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