VACINA CONTRA DEPENDÊNCIA QUÍMICA: SOLUÇÃO PARA USUÁRIOS E GOLPE NA INDÚSTRIA DO TRÁFICO?

Dependência de drogas ainda causa muitos problemas no país

A dependência química é um problema de saúde pública que afeta não apenas os usuários, mas também suas famílias e a sociedade como um todo. No Brasil se estima que, mais de 3,5 milhões de pessoas façam uso regular de cocaína e crack, segundo dados da Fiocruz. Além das consequências diretas na saúde, como danos cerebrais, doenças cardiovasculares e maior vulnerabilidade a infecções, a dependência impacta profundamente a vida familiar, causando rompimentos de laços, violência doméstica e dificuldades financeiras.

Diante desse cenário, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão desenvolvendo uma vacina que pode revolucionar o tratamento da dependência de cocaína e crack. O imunizante, chamado Calixcoca, estimula o organismo a produzir anticorpos que se ligam à droga no sangue, impedindo que ela atinja o cérebro e provoque a sensação de euforia responsável pela compulsão ao uso. A pesquisa, iniciada em 2015, já apresentou resultados promissores em testes com animais. Os cientistas acreditam que, com financiamento adequado, a vacina poderá ser concluída em até três anos e, posteriormente, aprovada para uso em humanos. Mais detalhes sobre o estudo podem ser encontrados no site oficial da UFMG e na publicação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

IMPACTOS NA VIDA DO USUÁRIO E DAS FAMÍLIAS

O vício em drogas compromete a capacidade de trabalho, o convívio social e a estrutura familiar. Muitos usuários perdem o emprego, passam a viver em situação de rua e acabam envolvidos em atividades criminosas para sustentar o vício. As famílias, por sua vez, enfrentam desgaste emocional, medo e dificuldades financeiras ao tentarem ajudar o dependente.

“A dependência química destrói lares. Pais perdem seus filhos para as drogas, irmãos deixam de se reconhecer e muitas vezes a única saída encontrada é o afastamento. Uma vacina que impeça a recaída pode ser a esperança que muitas famílias buscam há anos”, afirma o psiquiatra Frederico Garcia, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e um dos responsáveis pela pesquisa da vacina.

DISTRIBUIÇÃO DA VACINA: UM GOLPE NA INDÚSTRIA DO TRÁFICO

Além de beneficiar usuários e famílias, a distribuição da vacina contra a dependência química pode enfraquecer significativamente a indústria do tráfico de drogas. Com menos demanda por cocaína e crack, os lucros do narcotráfico seriam diretamente afetados, impactando toda a cadeia criminosa envolvida na produção e distribuição dessas substâncias.

O tráfico de drogas movimenta bilhões de reais anualmente e está associado a uma série de crimes, como homicídios, corrupção e lavagem de dinheiro. A redução do consumo, impulsionada por uma vacina eficaz, representaria um duro golpe para organizações criminosas que dominam esse mercado ilegal.

APOIO GOVERNAMENTAL PODE ACELERAR A CHEGADA DA VACINA

Embora o governo de São Paulo invista em programas de recuperação e tratamento para dependentes químicos, ainda não há informações sobre aporte de recursos para acelerar a produção e aprovação da vacina da UFMG. O estado mantém iniciativas como o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas, que realizou mais de 18 mil atendimentos desde abril de 2023 (Governo de SP).

Santa Catarina, que também enfrenta desafios relacionados ao uso de drogas, poderia seguir esse exemplo e destinar uma parte dos seus recursos para auxiliar na conclusão da vacina. Além de tratar dependentes químicos, a iniciativa fortaleceria a segurança pública e reduziria os custos com saúde e repressão ao tráfico.

E QUEM PREFERE O CAMINHO DA IGNORÂNCIA?

Enquanto a ciência avança, há quem prefira discursos punitivistas sem qualquer embasamento. Recentemente, um vereador de Balneário Camboriú sugeriu o uso de vara de marmelo no lombo de usuários de drogas em situação de rua, ignorando completamente a complexidade da dependência química e o sofrimento de milhares de famílias afetadas por essa realidade.

Se esse edil realmente deseja contribuir para a sociedade, uma boa ação inteligente seria propor um projeto de lei destinando recursos do orçamento municipal para auxiliar na aceleração da produção e distribuição do imunizante. Caso contrário, se permanecer em silêncio e nada fizer, esta coluna sugere aos pesquisadores da UFMG que desenvolvam uma segunda vacina: uma que imunize contra a falta de cognição, os extremismos ideológicos e, claro, o negacionismo científico que insiste em sobreviver apesar de todos os avanços da humanidade.

A ironia pode ser ácida, mas a realidade é ainda mais cruel. Enquanto alguns defendem soluções simplistas baseadas na violência, a ciência trabalha para oferecer uma saída real e eficaz para a dependência química. Cabe aos gestores públicos decidir de qual lado da história querem estar.

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JOSÉ SANTANA: Jornalista, graduado em Gestão Pública e pós-graduando em Direito Constitucional e Direito Administrativo pela Universidade Uninter.

Da redação @folhadoestadosc

 

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