La Niña impacta Santa Catarina: Oeste sofre com secas e litoral enfrenta alagamentos

O fenômeno climático La Niña continua afetando a região Sul do Brasil, com consequências distintas para as diversas áreas de Santa Catarina. No Oeste do estado, chuvas abaixo da média e longos períodos de estiagem têm prejudicado a agricultura e a produção local. Já no litoral catarinense, o fenômeno também exerceu influência, contribuindo para alagamentos e prejuízos registrados nos últimos dias. Segundo o meteorologista Piter Scheuer, “a influência de La Niña ocorreu favorecendo as chuvas no litoral, mas é importante destacar que se trata de um processo
secundário.”

O que é o La Niña?

O La Niña é um fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial, na região próxima ao Peru e Equador. Esse resfriamento provoca mudanças nos padrões de vento e precipitação, afetando diretamente o clima global.

Quando o La Niña se manifesta, ocorre um deslocamento das águas quentes do Pacífico Oeste para o lado oposto, resultando em chuvas mais intensas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, enquanto o Sul e Sudeste enfrentam estiagem. Essa alteração climática causa temporais fortes no Nordeste e secas severas no Sul, afetando principalmente a agricultura e os ecossistemas.

O La Niña é o resfriamento das camadas superficiais das águas até cerca de 100 metros de profundidade e pode durar mais de um ano. Ele ocorre em intervalos que variam de dois a sete anos e faz parte do ciclo natural da El Niño-Oscilação Sul, que inclui fases de aquecimento (El Niño), condições neutras e de resfriamento (La Niña).

Impactos no Oeste

O meteorologista Piter Scheuer explicou que, no Oeste de Santa Catarina, o La Niña tem provocado um padrão climático irregular, com chuvas abaixo da média e períodos prolongados de seca. A região vivenciará esse cenário ao longo de 2025, com longos períodos de estiagem seguidos de chuvas que podem ser regulares (ou chuvas volumosas em um curto espaço de tempo) e mal distribuídas. Essa irregularidade nas chuvas pode afetar severamente a agricultura local, comprometendo o plantio, o desenvolvimento das culturas e a colheita. Além disso, a falta de água pode prejudicar a irrigação e a produção de energia renovável, que depende de um clima mais equilibrado.

A agricultura catarinense é uma das áreas mais impactadas pelo La Niña. Com a irregularidade das chuvas e a falta de precipitação, os agricultores enfrentam dificuldades devido à escassez de água para irrigação e ao impacto direto na produção. As secas prolongadas prejudicam o plantio e a colheita, resultando em perdas para os produtores rurais.

Produtores de soja devem permanecer atentos à previsão de chuva

A condição de estiagem leve, que se observa no Oeste de Santa Catarina desde o final de dezembro, pode prejudicar o desenvolvimento adequado da soja de segunda safra na região. É o que afirma Haroldo Tavares Elias, analista de socioeconomia da Epagri/Cepa. Ele relata que as lavouras já estabelecidas para a segunda safra do grão enfrentam déficit hídrico. Haroldo recomenda que os agricultores permaneçam atentos à previsão do tempo, especialmente no que se refere à probabilidade de chuva para os próximos 15 dias. Assim, eles podem buscar o melhor cenário para dar continuidade à semeadura da soja, que fica extremamente condicionada à umidade no solo. “Ainda estamos dentro da janela ideal de semeadura, que, em decorrência da falta de chuva, pode sofrer atraso e reduzir o potencial produtivo da cultura”, afirma o analista da Epagri/Cepa.

Milho

Já a cultura do milho, que, segundo Haroldo, está praticamente definida, sofreu pouco impacto com a leve estiagem. “As primeiras colheitas indicam produtividade satisfatória e uma produção dentro da normalidade”, afirma. O produtor Diego Picoli, de Arvoredo, no Oeste do estado, explica que, em sua propriedade, são cultivados milho para silagem e feno.

Ele destaca que, embora o fenômeno esteja ocorrendo com baixa intensidade, os agricultores estão preocupados. “Isso nos afeta de várias formas. As pastagens não se desenvolverão de maneira adequada, e as culturas terão sua produtividade reduzida, o que aumenta o custo da produção e diminui os resultados”, comentou.

Apesar do cenário desafiador, Diego garante que está tomando medidas para se preparar. “Estamos preparando a lavoura de milho safrinha para garantir alimento para o gado no inverno”, completou. Impactos nos Recursos Hídricos e Energia Além da agricultura, os recursos hídricos também são afetados pela escassez de chuvas. A falta de precipitação reduz os níveis de água em rios e reservatórios, afetando o abastecimento de água potável e a geração de energia hidrelétrica, o que pode gerar um impacto significativo na economia local.

Desastres Naturais e Saúde Pública

O fenômeno La Niña pode elevar o risco de desastres naturais, como enchentes e deslizamentos de terra. As chuvas intensas associadas a esse fenômeno têm o potencial de provocar o transbordamento de rios e inundações em áreas tanto urbanas quanto rurais, causando danos materiais e colocando a vida das pessoas em risco.

Além dos impactos diretos no meio ambiente e na infraestrutura, a saúde pública também é afetada pelo La Niña. As  chuvas intensas e as temperaturas extremas podem facilitar a propagação de doenças transmitidas pela água e agravar enfermidades relacionadas ao calor. Por isso, é crucial que as autoridades de saúde adotem medidas preventivas e intervenham para mitigar os efeitos sobre a população.

Relação entre La Niña e El Niño

Os fenômenos La Niña e El Niño são parte do ciclo climático ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e estão relacionados, mas representam fases opostas desse ciclo. O El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico, enquanto o La Niña é marcado pelo resfriamento dessas mesmas águas. Essas alterações nas temperaturas oceânicas geram impactos profundos nos padrões climáticos globais.

Vale ressaltar que esses fenômenos não acontecem isoladamente, mas como parte de um ciclo contínuo. Após a ocorrência de um evento El Niño, o sistema climático frequentemente transita para um período de La Niña, e vice-versa. O tempo entre essas transições pode variar, assim como a intensidade e a duração de cada fenômeno.

Esses fenômenos desempenham um papel fundamental na dinâmica climática global, influenciando aspectos como os padrões de chuva, temperatura e vento em várias regiões do mundo. As consequências podem ser amplas, afetando desde a agricultura até a saúde pública, como já explicado anteriormente.

Impacto no Litoral de SC

No litoral catarinense, a situação ocorrida nesta semana é explicada pela ocorrência de “chuva orográfica”, que acontece quando nuvens trazidas pelos ventos úmidos do mar encontram uma barreira montanhosa e resultam em precipitação.

“Esse processo provoca um volume de chuva muito maior, especialmente em áreas próximas à Serra do Tabuleiro e ao Costão da Serra”, explicou o meteorologista. Na manhã de sexta-feira (17), a Defesa Civil de Santa Catarina informou que Biguaçu foi a cidade mais afetada, com 400 milímetros de chuva em 24 horas, causando alagamentos significativos.

Até a noite de quinta-feira (16), seis cidades decretaram situação de emergência devido às chuvas: Balneário Camboriú, Camboriú, Governador Celso Ramos, Tijucas, Biguaçu e Florianópolis. Aproximadamente 180 pessoas foram desalojadas, sendo Camboriú o município mais afetado, com 100 desalojados, seguido por Itapema (50) e Porto Belo (30).

Na publicação desta matéria, 13 municípios haviam decretado situação de emergência devido aos alagamentos, deslizamentos e danos à infraestrutura. De acordo com a previsão da Defesa Civil, novos temporais devem atingir o Litoral no fim de semana.

Como La Niña Afetará as Regiões do Brasil?

O Inmet prevê que o La Niña trará impactos variados ao clima brasileiro. No Sul, haverá chuvas irregulares e temperaturas acima da média, enquanto no Norte e Nordeste a redução das chuvas será menos acentuada. No Sudeste e CentroOeste, as temperaturas também ficarão elevadas, mas as chuvas devem permanecer próximas do normal. Apesar de o fenômeno ser geralmente mais seco e frio, sua manifestação moderada permitirá uma distribuição mais equilibrada das
chuvas no país.

Previsões para os Próximos Meses em SC

A previsão é de que o La Niña continue influenciando a região até o final de 2025, com um retorno gradual das chuvas previsto para fevereiro. No entanto, os efeitos do fenômeno continuarão irregulares, com períodos de seca alternando com chuvas intensas, o que exige monitoramento constante e preparação da população e das autoridades. (Diário do Iguaçu)

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