Almoço com cerveja

Só de olhar para aquilo já me embrulhava o estômago. Enquanto aquela pessoa almoçava, tomando junto uma lata de cerveja em temperatura ambiente, um líquido viscoso e azedo ia subindo pela minha garganta. Me dava ânsia de vômito.

Uma parada que o ônibus faz no meio de uma longa viagem é importante porque ali a gente desce, estica as pernas, vai ao banheiro, come alguma coisa, alguns fumam um cigarro etc. Mas tem gente que prefere ficar lá dentro mesmo, uns dormindo, outros escutando música, mexendo em seus celulares ou comendo algo que trouxeram de casa. Nem sempre dá tempo de terminarem a refeição e, quando retornamos, acabamos presenciando, de camarote, o grotesco espetáculo.

Era uma colherada, com uma daquelas colheres de plástico, na comida já fria dentro do marmitex, seguida de uma golada na cerveja. E eu imaginando o arroz com feijão se misturando com a espuma morna, com um pouco do gosto do alumínio da latinha, e virando uma massaroca que parecia descer, pelo menos um pouco dela, direto pela garganta, sem nem ao menos ser mastigada. Às vezes escorria um fio da bebida pelo canto da boca e a língua, coberta por um pouco daquilo que estava dentro da boca, logo ia buscar de volta.

Por mais que a gente tente, não consegue parar de olhar para essas coisas. Não sei o que é isso, mas eu virava a cabeça para o outro lado e quando me dava conta, já estava encarando aquela cena de novo. Parece que esse tipo de coisa atrai nossa atenção, é irresistível, é como um imã. Será que o ser humano, por natureza, gosta de se torturar?

Passei todo o restante da viagem suando, com azia e mal-estar. Aquela imagem não saía da minha cabeça. Quando desci do ônibus, peguei minha mala no bagageiro e fui direto ao guichê da empresa para comprar a passagem de volta. Pedi pelo amor de Deus uma poltrona na janela. No corredor, nunca mais!

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