Invasão argentina de Balneário Camboriú deve ser a maior desde 2018

(JP3/Folhapress) – O Brasil está mais uma vez “barato” para os argentinos que estão chegando a Balneário Camboriú e outras cidades do litoral brasileiro em grande quantidade.

Um especialista em parcerias com agentes de viagens argentinos, o dono do Barco Pirata Domingos Casemiro Pinheiro, o Gunga, disse ao Página 3 na terça-feira que mais de 100 ônibus estavam cruzando a fronteira da Argentina em direção a Balneário Camboriú.

A hoteleira e presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina (ABIH-SC), Margot Rosenbrock Libório, confirma a previsão e lembra que a cidade, que nos anos 80 e 90 era um dos destinos preferidos pelos turistas argentinos, está registrando um aumento expressivo de visitantes do país vizinho.

Segundo ela, a expectativa é que neste mês de janeiro, os estrangeiros venham a representar 50% da ocupação hoteleira de Balneário Camboriú -dentre esses  70% argentinos, mas também uruguaios, paraguaios e principalmente chilenos, que vieram durante todo 2024 inteiro. A taxa geral de ocupação hoteleira tende a ultrapassar os 90%. 

Margot acredita que o trimestre (janeiro, fevereiro e março) será o melhor desde 2018. 

“Em 2018, a região teve um bom fluxo do turismo argentino, depois em 2019 e no verão de 2020, antes de iniciar a pandemia, o fluxo já tinha caído bastante por causa das questões econômicas na Argentina; aí em  2021 e 2022, ainda sofremos o impacto da pandemia, tanto para a nossa região quanto para o Brasil. Em 2023 e 2024 foi um fluxo tímido porque o Brasil parecia muito caro na época, então vai ser o melhor verão, o maior fluxo de estrangeiros, desde 2018″, afirma

A hoteleira comenta que o fluxo de argentinos só não será maior porque já havia muitas reservas de brasileiros, chilenos, paraguaios e uruguaios, feitas enquanto a economia argentina não favorecia a vinda para Balneário Camboriú. 

Turismo na Argentina caiu, porque país ficou caro

Nos três meses que antecederam o verão na Argentina, o número de turistas brasileiros visitando o país caiu, segundo os dados oficiais. Antes, o fluxo de países como Chile e Uruguai já havia caído, com taxas ainda mais expressivas.

É reflexo de uma Argentina na qual a valorização artificial da moeda mantida pelo governo Milei encarece o país e cujo recuo na inflação desfaz o cenário quase utópico de baixos preços vivenciado pelos turistas em 2023. Já são oito meses de quedas no setor do turismo.

Os últimos números disponíveis mostram que em novembro o recuo geral na chegada de turistas foi de 19,2% em relação a um ano antes. Para os brasileiros, o maior tombo está em outubro, com menos 20,3% no fluxo da nacionalidade, a que mais movimenta o turismo argentino.

Comércios acostumados ao domínio dos turistas brasileiros sentiram. Localizada em Mendoza, a joia do enoturismo argentino, para onde há inclusive voos diretos de São Paulo, a Bodega Santa Júlia recebeu cerca de 20% menos turistas brasileiros no ano passado em relação a 2023.

“Piorou depois de setembro, e a equação não é boa nesse momento”, relata Julia Zuccardi, da rede. “Seguimos recebendo muitos brasileiros que valorizam a boa gastronomia e o bom vinho, é um grupo que não deixa de vir, mesmo que a cotação não seja conveniente, mas caiu muito o público massivo, que via na Argentina um destino barato.”

Nas últimas semanas viralizaram vídeos nos quais se comparavam preços de produtos de supermercado no Brasil e na Argentina. Eram comparações aleatórias, às vezes de marcas incompatíveis ou locais com faixas de valores muito diferentes, como litoral e fronteira e capital, mas de fato há uma diferença que vem sendo mapeada.

A consultoria PriceStats, criada por professores do MIT, calcula que neste janeiro a Argentina está 19% mais cara que o Brasil para compra de uma cesta idêntica de alimentos e combustível em dólares. Essa medição faz parte de um respeitado índice da empresa que compara a paridade do poder de compra em diferentes países.

Quem trabalha com câmbio de reais ou dólares para pesos diz que os turistas brasileiros têm trocado mais e com mais frequência ao se darem conta de que o valor escolhido lhes duraria bem menos dias do que pensavam. Pagamentos em dinheiro ainda são muito comuns no país, com lugares que dão desconto de 10% a 20% nestes casos.

Por outro lado, se a Argentina está cara para os próprios locais, que assistem à queda no consumo, a valorização artificial do peso favoreceu viagens de argentinos para destinos como Brasil e Chile, onde eles encontram hospedagem, alimentação e roupas mais baratas. A desvalorização do real também pesou nesta balança, fazendo do Brasil ainda mais atrativo.

Na contramão das quedas consecutivas no turismo receptivo, que o país espera reverter nestes meses de verão, o turismo emissivo cresceu. Aumentou 43% o fluxo de argentinos indo ao exterior em novembro.

Portais e canais de televisão argentinos têm dois assuntos quase que fixos nos últimos dias dada a grande procura dos argentinos por destinos no Brasil. Primeiro, como usar o Pix, o modelo de pagamento instantâneo brasileiro que graças à tecnologia blockchain pode ser usado por argentinos através de bancos digitais. Segundo, informações sobre o surto de gastroenterites no litoral brasileiro.

A preocupação em aquecer o turismo é tamanha que o secretário de Turismo do governo Milei, o ex-embaixador argentino no Brasil Daniel Scioli, pediu que o governo da cidade de Buenos Aires atrasasse a data de retorno das férias escolares para depois das festas de Carnaval na primeira semana de março.

As escolas da capital já estarão abertas nesta data, fazendo com que muitas famílias decidam não viajar no fim de semana prolongado do feriado. Scioli propôs o atraso para tentar movimentar o turismo doméstico, dado que milhares de argentinos estão partindo para países como Brasil e Chile.

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